CONDUTA AMBULATORIAL EM PACIENTES COM COVID-19

A pandemia de COVID-19 tem levado a um significativo aumento na demanda aos leitos hospitalares, assim como redução na disponibilidade do equipamento médico.  Com o propósito de aliviar o sistema público de saúde e, simultaneamente fornecer a melhor atenção médica possível aos pacientes, os médicos de serviços de urgência precisam identificar pacientes de baixo risco que podem ser tratados em casa, pacientes de alto risco que demandam hospitalização e, em alguns casos, admissão à U.T.I.

O presente trabalho prospectivo multicêntrico visou validar a segurança da conduta em pacientes com infecção por SARS-CoV-2 no que diz respeito à hospitalização ou tratamento ambulatorial, com a participação de prestigiosas universidades francesas, belgas e no principado de Mônaco.  Partiu-se do questionamento da relação de critérios elegíveis para tratamento domiciliar (HOME-CoV), ou seja,  se o processo é confiável no sentido de identificar o sub-grupo de pacientes com baixo risco de resultados adversos que podem ser tratados em casa com segurança.   O desempenho do processo HOME-CoV  foi avaliado pela frequência de falsos negativos.

Foram avaliados pacientes com diagnóstico provável ou confirmado de COVID-19 que buscaram tratamento no serviço de urgência de 34 hospitais. O principal resultado a ser observado foi a evolução indesejável, o que quer dizer, ventilação invasiva ou óbito ocorrendo dentro de 7 dias da admissão.   Dentre os 3.000 pacientes incluídos, 1.239 (41,3%) demonstraram achados negativos para a relação de questões de HOME-CoV. A frequência de falsos-negativos foi de 4 em 1.239 casos, (0,32%; 95%  IC: 0,13%-0,84%).  Feitos os ajustes estatísticos necessários, 25 de 1.274 pacientes  (1,95%) apresentaram evolução adversa durante o período observacional versus 12 de 1.274 (0,95%) durante o período intervencional: -1,00 (95% IC: -1,86% -0,15%). Durante o período observacional, 858 pacientes (67,35%) foram tratados em casa versus 871 pacientes (68,37%) tratados durante o período intervencional:-1.02 (95%I C: -4,46-2,26).

É importante a interpretação dos achados:  grande proporção de pacientes tratados no serviço de urgência com provável ou COVID-19 confirmado, podem ser tratados com segurança em casa com baixo risco de complicações.

Douillet D et al. Outpatients management of patients with COVID-19. Chestjournal.org / FLA 5.6.0 DTD  CHEST4267_proof  28 May 2021  9:16 pm EO: CHEST-21-0206 .

SÍNDROME PÓS-COVID-19 : PERSISTÊNCIA DE SINTOMAS NO ESTÁGIO PÓS-VIRAL DA ENFERMIDADE. REVISÃO SISTEMÁTICA DOS DADOS ATUAIS

Cerca de 117 milhões de pessoas foram universalmente diagnosticadas com COVID-19 até março de 2021.  Enquanto o mundo inteiro está enfrentando a segunda onda de COVID-19, uma proporção substancial de pacientes que sofreram da condição nos últimos meses estão referindo sintomas que perduram meses após a recuperação, ou seja, sintomas de longo prazo. 

Os autores do presente trabalho (Instituto Ortopedico Rizzoli – Gênova, Itália) avaliaram as evidências atuais dos sintomas a longo prazo em pacientes que apresentaram COVID-19.  Com esse propósito, procederam a uma revisão sistemática dos estudos de sintomas de longa duração em Pubmed, Web of Science, EMBASE e Google Scholar desde o início do banco de dados até 15 de fevereiro de 2021.  Foram incluídas todas as publicações que relataram pelo menos um sintoma de longa duração de COVID-19.  Foram desse modo incluídos trabalhos de corte transversal, relato e séries de casos, estudos controlados e revisões, avaliando a graduação das informações com o emprego de ferramentas de avaliação de qualidade.

Inicialmente foram encontradas 11.361 publicações, das quais 218 textos integrais inicialmente analisados.  Destes, 145 trabalhos preencheram os critérios de seleção.  Foram caracterizados 20,75% relatos de sintomas de funções pulmonares anormais,  24,13% de queixas neurológicas e disfunções olfatórias e, 55,17% de determinados sintomas específicos, principalmente fadiga crônica e dor. 

Apesar da heterogenicidade relativamente elevada dos estudos revisados, os achados destacam que existe uma sensível proporção de pacientes que sofreram da infecção SARS-CoV-2 que apresentam a “síndrome pós-COVID”. O entendimento multifacetado de todos os aspectos da pandemia de COVID-19, incluindo os sintomas de longo prazo, nos permitirá responder aos desafios globais de saúde, auxiliando desse modo, em função da atualidade, a pavimentar um caminho mais robusto de saúde pública.

Salamanna F et al. Post-COVID-19 syndrome: the persistent symptoms at the post-viral stage of the disease. A systematic review of the current data.   Frontiers in Medicine 2021/vol 8/article 653516/                                                                                          doi: 10.3389/fmed 2021.653516.

PREVALÊNCIA GLOBAL DE SINTOMAS GASTRINTESTINAIS PROLONGADOS PÓS-COVID-19 E PATOGÊNESE POTENCIAL: REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE 

A presente revisão foi realizada por um grupo representativo de universidades da Indonésia, Bangladesh, Índia, Iêmen e Universidade de Harvard, Estados Unidos.  Foram pesquisados artigos relevantes de três bases de dados (PubMed, Scopus e Web of Science) até janeiro de 2021. Ocorreu a recuperação, segundo as diretrizes PRISMA, de dados relevantes sobre as características de cada estudo, informações clínicas importantes durante o seguimento, número de casos com sintomas gastrintestinais prolongados e número total  de sobreviventes de COVID-10.  Com o propósito de avaliar a qualidade dos estudos selecionados foi empregada a escala Newcastle-Ottawa.  Foi calculada a prevalência combinada de sintomas gastrintestinais específicos prolongados e, quando apropriada, a associação entre a gravidade de COVID-19 e a ocorrência de sintomas gastrintestinais.

Dentre 527 sobreviventes de COVID-19, a prevalência global de náusea foi de 3,23% (95% IC: 0,54%-16,53%). Vômitos persistiram em 93 dentre 2.238 pacientes sobreviventes de COVID-19 (3,19%, 95% IC:1,62%-6,17%).  Diarreia persistente foi encontrada em 34 dentre 1.073 pacientes sobreviventes de COVID-19 (4,12%, 95% IC: 1,07%-14,64%). Um total de 156 pacientes dentre 2.238 sobreviventes referiram queixa de diminuição ou perda de apetite (4,41%, 95% IC: 1,91%-9,94%).  A prevalência cumulativa de dor abdominal prolongada foi de 1,68% (95% IC:0,84%-3,32%) enquanto paladar alterado (disgeusia) foi identificado em 130 casos dentre 1.887 sobreviventes COVID-19 (7,04%, 95% IC:5,98%-8,30%). Os dados foram insuficientes para avaliar a relação entre gravidade de COVID-19 e a ocorrência de sintomas gastrintestinais prolongados.

Concluem que os sintomas gastrintestinais persistentes entre pacientes que sobreviveram a COVID-19 depois de alta ou recuperação, levantam preocupação em relação ao impacto na qualidade de vida dos remanescentes dessa infecção. A despeito de numerosas explicações e interpretações propostas,  são necessários maiores estudos para determinar a patogênese dos sintomas prolongados. 

Yusuf F et al. Global prevalence of prolonged gastrointestinal symptoms in COVID-19 survivors and potential pathogenesis: a systematic review and meta-analysis. F1000Research 2021, 10.301. https://doi.org/10.12688/f1000research.52216.1.

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Compilação:

Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Livre-Docente de Gastroenterologia. – Fac.Med. USP
Diretor Comunicação – FBG