COVID-19 E ENFERMIDADE GASTRINTESTINAL: IMPLICAÇÕES PARA O GASTROENTEROLOGISTA

A pandemia provocada pelo novo vírus SARS-CoV-2 caracterizou a enfermidade denominada pela OMS de COVID-1.  Esta foi seguida por uma enorme quantidade de informações sobre o novo vírus, muitas das quais são relevantes para os gastroenterologistas.  Inicialmente COVID-19 foi considerado uma enfermidade respiratória, mas crescentes evidências têm identificado sérias consequências sistêmicas envolvendo diferentes órgãos, inclusive os do sistema digestivo.

A presente revisão chama a atenção para novas informações clínicas importantes para o gastroenterologista.  Inclui: (a) mecanismos de dano tissular com o vírus SARS-CoV-2; (b) consequências da imunossupressão em pacientes com doença inflamatória intestinal (DII) e doença crônica hepática, com riscos adicionais de descompensação em pacientes com cirrose; ) c) impacto de COVID-19 em emergências gastrintestinais, na endoscopia digestiva e em diagnósticos e tratamentos endoscópicos.  

Esses achados chamam a atenção para a necessidade de entendimento da farmacologia, toxicologia e implicações terapêuticas das drogas comumente utilizadas pelos gastroenterologistas e suas ligações com COVID-19. A principais mensagens do presente artigo de revisão de destacados gastroenterologistas mundiais, são as seguintes:

– Qualquer parte do sistema digestivo pode ser afetado pelo vírus                       SARS-CoV-2, sendo que os pacientes com doenças pré-existentes estão em maior risco de resultados adversos.

– O risco de interação droga-droga é considerável em pacientes seriamente enfermos com COVID-19 que, muitas vezes, exigem ventilação mecânica e suporte vital.

– Alguns fármacos que têm sido utilizados contra SARS-CoV-2 podem provocar ou agravar determinados sintomas gastrintestinais relacionados a COVID-19 e podem, inclusive, induzir a danos hepáticos.

– Estudos clínicos em andamento deverão identificar de modo conclusivo quais as drogas efetivas com resultados mais favoráveis na relação risco-benefício, do que certos  tratamentos inicialmente tentados.

Hunt RH et al. COVID-19 and gastrointestinal disease: implications for the gastroenterologist. Dig Dis 2021;39:119-139.

SEGURANÇA, TOLERABILIDADE E IMUNOGENICIDADE DA VACINA INATIVADA SARS-CoV-2 (CORONAVAC) EM CRIANÇAS SAUDÁVEIS E ADOLESCENTES: ESTUDO CLÍNICO DUPLO-CEGO, RANDOMIZADO, CONTROLADO, FASE 1/2.

A vacina contra COVID-19 para crianças e adolescentes deverá desempenhar papel importante na contenção da pandemia. Com o propósito de avaliar essa condição, o grupo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Hebei, China, realizou o presente estudo com indivíduos de 3 a 17 anos de idade.  A vacina (adjuvante: 0,5 ml hidróxido de alumínio) ou somente hidróxido de alumínio foi administrado por injeção intramuscular em duas doses (28 dias de intervalo).  A fase 1 foi realizada em 72 participantes de forma randomizada.  Na fase 2 os indivíduos estudados  foram igualmente randomizados.  Todos os participantes, investigadores e pessoal de laboratório ignoravam os produtos alocados.  O ponto primário de segurança foi a observação de eventos adversos dentro de 28 dias após a primeira injeção.  A imunogenicidade primária avaliada foi a velocidade de seroconversão dos anticorpos neutralizantes ao SARS=CoV-2 após 28 dias da segunda injeção.

Foram inscritos 72 participantes na fase 1 e 480 na fase 2. No perfil de segurança combinado de fase 1 e 2, reações adversas ocorreram em 24% a 26% a maioria de gravidade leve a moderada, sendo dor no local da injeção o evento mais reportado.  Somente um evento grave foi relatado (pneumonia) não tendo sido relacionado à vacinação.

Concluem que Coronavac foi bem tolerada e segura e induziu respostas humorais em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos de idade.  Os títulos de anticorpos neutralizantes induzidos pela dose de 3,0 µg foram maiores do que aqueles com a dose de 1,5 µg.  Os resultados,portanto, suportam o uso de 3 µg com programa duplo de imunização para futuros estudos em crianças e adolescentes.

Hang B et al. Safety, tolerability, amd immunogenicity of an inactivated SARS-CoV-2 vaccine (Coronavac) in healthy children and adolescents: a double-blind, randomised, controlled, phase 1/2 clinical trial.  Lancet Infect Dis 2021 Jun 28. pii:S1473-3099(21)00319-4.

Compilação :

Joaquim Prado P Moraes-Filho

Professor Livre-Docente de Gastroenterologia. – Fac.Med. USP

Diretor Comunicação – FBG