EFEITO DA IVERMECTINA NO TEMPO DE RESOLUÇÃO DE SINTOMAS ENTRE ADULTOS COM FORMA LEVE DE COVID- 19

O presente estudo clínico duplo-cego, randomizado, foi conduzido em Cali, Colômbia (Centro de Estudios en Infectologia Pediátrica).  Os participantes em potencial foram identificados na base de dados do sistema eletrônico do Departamento de Saúde do Estado em pacientes com COVID-19 confirmado.  Foram selecionados 476 adultos com a forma leve da enfermidade com sintomas nos últimos 7 dias ou menos e incluídos entre 15 de julho e 30 de novembro de 2020 com seguimento até 21 de dezembro de 2020.   Os pacientes foram randomizados para receber ivermectina (300 µg/Kg peso corporal)/n=200) ou placebo (n=200) por 5 dias.

Os resultados primários  se constituíram no tempo de resolução de sintomas dentro de 21 dias do período de seguimento, também com observação de eventos adversos.  O tempo médio de resolução em ambos os sexos foi de 10 dias no grupo em que foi administrado ivermectina e 12 dias no grupo placebo.  Ao término do período de observação de 21 dias, 21,82% dos pacientes do grupo ivermectina e 79,00% no grupo placebo apresentaram resolução dos sintomas.  O evento adverso leve mais comum foi cefaléia no grupo ivermectina (104/52% ) e placebo (111/56%)  e o evento adverso mais sério foi falência de múltiplos órgãos em 4 pacientes (2 em cada grupo).

Os autores concluem que entre adultos com formas não-complicadas de COVID-19, o tratamento de 5 dias com ivermectina comparada com placebo não melhorou significativamente o tempo de resolução dos sintomas.  Os achados, portanto, não suportam o uso de ivermectina para o tratamento da forma não-complicada de COVID-19.  Novos e maiores estudos clínicos podem ser necessários para a compreensão dos efeitos da ivermectina em outras formas clinicamente relevantes da infecção.

López-Medina E et al. Effect of ivermectin on time to resolution of symptoms among adults with mild COVID-19.  A randomized clinical trial. JAMA 2021; 325(4):1427-1435. doi:10.1001/jama.2021.3071.

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DE PACIENTES COVID-19 COM SINTOMAS GASTRINTESTINAIS NO NORTE DA ITÁLIA:  ESTUDO UNICÊNTRICO DE COORTE 

A apresentação típica de COVID-19 é a síndrome respiratória aguda cujos sintomas mais comuns incluem febre, tosse e dispnéia. Sintomas gastrintestinais têm, entretanto, sido descritos de forma crescente, como diarréia, náuseas e vômitos, em pacientes afetados pela COVID-19.  O presente estudo objetivou descrever a prevalência e tempo desaparecimento de sintomas gastrintestinais nesses pacientes e encontrar associações potenciais entre os sintomas gastrintestinais e achados clínicos.

Foi realizado estudo prospectivo tipo coorte em um centro médico, com a inclusão de pacientes que receberam diagnóstico de COVID-19 na instituição (Unidade de Gastroenterologia, ASST Rhodense, Garbagnate Milanese, Itália) entre 23 de março de 2020 e 5 de abril de 2020.  Foram coletados achados clínicos, demográficos, história clínica e dados laboratoriais. Foi também empregado por ocasião do estabelecimento diagnóstico, um questionário especialmente projetado para a obtenção de dados sobre a presença e tempo do início da febre, sintomas respiratórios típicos, sintomas gastrintestinais e outros como: fadiga, cefaléia, mialgia/artralgia, anosmia, ageusia/disgeusia, dor de garganta  e manifestações oculares.

No grupo estudado, 138(69%) de 190 pacientes demonstraram pelo menos um sintoma gastrintestinal  por ocasião do diagnóstico.  Se for excluído hiporexia/anorexia, 93 pacientes (48,9%) demonstraram pelo menos um sintoma gastrintestinal.   Os sintomas gastrintestinais, particularmente diarréia, foram associados a baixa mortalidade.  Assim, em uma análise multivariada, os sintomas gastrintestinais, particularmente diarréia, parecem estar associados com menor mortalidade.  Conclui-se que os sintomas gastrintestinais são muito frequentes em pacientes com COVID-19 e podem estar associados com melhor prognóstico.  Os dados ora apresentados sugerem que, em alguns pacientes, o trato gastrintestinal pode estar mais envolvido do que o sistema respiratório.

Schettino M et al. Clinical characteristics of COVID-19 patients with gastroibtestinal symptoms in Northern Italy: a single-center cohort study. Am J Gastrenterol 2021; 116:306-310. https://doi.org/10.14309/ajg.0000000000000965.

CONSEQUÊNCIAS DE COVID-19 EM PACIENTES COM ALTA HOSPITALAR HÁ 6 MESES.  ESTUDO COORTE

As consequências a longo prazo de COVID-19 não são bem conhecidas.  O objetivo do presente trabalho foi descrever as consequências para a saúde a longo prazo em pacientes com COVID-19 que tiveram alta hospitalar e investigar os fatores de risco associados, particularmente a gravidade da doença. 

Foi realizado um estudo coorte de pacientes com COVID-19 confirmado que tiveram alta hospitalar de hospital em Wuhan, China, entre 7 de janeiro de 2020 e 29 de maio de 2020.  Os pacientes foram entrevistados com o emprego de questionários para avaliação de  sintomas e qualidade de vida, submeteram-se a exame físico, teste de caminhada por 6 minutos e exames de sangue.  

Foram estudados 1733 pacientes (total: 2469; excluídos: 736) com idade média de 57 (IQR 47,0-65,0) anos e 897 (52%) homens. Dentre outros achados apresentados na publicação, destacamos que os sintomas mais comuns foram fadiga, que estava presente em 1038 de 1665 (63%), e dificuldades do sono em 437  de 1665 (26%). Ansiedade e depressão foram caracterizados em 23% dos casos (367 de 1617).

Os resultados permitiram interpretar que, após 6 meses da infecção aguda, os pacientes com alta hospitalar foram principalmente incomodados com fadiga ou fraqueza muscular, dificuldades do sono, ansiedade e depressão.  Aqueles com quadros mais graves durante a hospitalização apresentaram prejuízos mais graves da difusão pulmonar e características anormais de imagem torácica e constituem a principal população alvo para recuperação de longo prazo.

Huang C et al. 6-month consequences of COVID-19 in patients discharged from hospital: a cohort study. The Lancet 2021;397:220-232. https://doi.org/10.1016/S01406736(20)326568.
OI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)32656-8

Compilação :

Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Livre-Docente de Gastroenterologia
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo