Estudo Clínico avalia Famotidina contra coronavírus

Temos observado uma lista crescente de medicamentos candidatos ao tratamento da COVID-19 na China, nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Brasil e em diversos outros países. Dentre esses, uma informação que chama a atenção dos gastroenterologistas foi recentemente divulgada em publicações nos Estados Unidos. A Famotidina,  antagonista dos receptores H2 da histamina utilizada na inibição da secreção gástrica, está sendo testada contra o novo coronavírus.

É particularmente interessante o porquê da Famotidina ter sido lembrada para utilização nesse tipo de experimento. Michel Callahan do Massachusetts General Hospital foi o primeiro a chamar a atenção nesse caso. O médico possui muita experiência na denominada biodefesa e tem passado por diferentes partes do mundo onde viroses têm ocorrido, inclusive em Nanjing, China. Ele observou, juntamente com seus colegas chineses, que a virose estava matando um em cada cinco pacientes com 80 ou mais anos.  A questão que se sobressaia era porque alguns eram poupados e outros não.  Pacientes de todas as idades com hipertensão arterial e doença pulmonar obstrutiva crônica também apresentavam risco aumentado. Revisando os prontuários, os médicos observaram que muitos sobreviventes sofriam de pirose crônica e estavam sob tratamento com Famotidina (em vez de Omeprazol, produto mais oneroso).  Os pacientes COVID-19 hospitalizados tratados com Famotidina estavam falecendo em média 14% quando comparados com 27% daqueles que não estavam sob esse tratamento. Embora os números sejam bastante diferentes, a análise estatística não mostrou diferença significante.

Estudos moleculares têm sido realizados, bem como, simulações computadorizadas para observar a ação de uma enzima viral denominada “protease papaína-like” que participa da replicação viral e, nesse caso em particular, para verificar a Famotidina se liga a essa proteína.  A conclusão foi que a droga interage com a enzima e, potencialmente, inviabiliza o vírus.  Vale dizer, entretanto, que essa atividade antiviral in vitro não tem sido até agora relatada em literatura antiviral.

Foi destarte iniciado um estudo clínico com Famotidina IV para alcançar um total de 1.174 pacientes, com exclusão daqueles com função renal diminuída,  já que Famotidina em altas doses é potencialmente cardiotóxica. Foram estudados mais de 200 casos e dentro em breve, deverá ser conhecido se a droga é ou não efetiva para pacientes infectados COVID-19.

Referência:

Science. National Institutes of Health.  https://www.sciencemag.org/news/2020/04/new-york-clinical-trial-quietly-tests-heartburn-remedy-against-coronavirus.  Acesso : 01/05/2020.

Joaquim Prado P Moraes-Filho

Diretor de Comunicação da FBG                                                                   Professor Livre Docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)