PANCREATITE AGUDA EM PACIENTES COM COVID-19 É MAIS GRAVE E LETAL: REVISÃO SISTEMÁTICA / METANÁLISE

Tendo em vista que evidências tem sugerido associação entre pancreatite aguda e COVID-19, o objetivo do presente trabalho (Hospital Cook County, Chicago, E.U.A.) foi, através de meta-análise e revisão sistemática, avaliar se a gravidade e resultados da pancreatite aguda são afetados por COVID-19.   Com esse objetivo, acompanhou-se as diretrizes Cochrane e PRISMA, tendo a dissertação digital sido seguida nos estudos analisados, comparando resultados entre pacientes com pancreatite aguda com e sem COVID-19. Foram observadas: etiologia, gravidade, tempo de permanência hospitalar e mortalidade associadas à pancreatite aguda em pacientes com e sem COVID-19.

Quatro estudos observacionais abrangendo um total de 2.419 pacientes foram incluídos. Em pacientes com pancreatite aguda, a presença de COVID-19 aumentou significativamente as probabilidades de mortalidade (OR 4,10, 95% Cl 2,03-8,29). Apresentaram, quando comparados aos pacientes não-COVID, incidência aumentada de pancreatite grave (OR 3,51, 95% Cl 1,19-10,32), pancreatite necrotizante (OR 1,84, 95% Cl 1,19-2,85) e tempo mais prolongado de hospitalização (OR 2,88, 95% Cl 1,50-5,52).  Pacientes com COVID-19 foram mais prováveis de apresentar pancreatite aguda de etiologia desconhecida ou idiopática (OR 4,02, 95% Cl 1,32-12,29).

Conclui-se que:

(a) evidências atuais sugerem que COVID-19 impactam de modo desfavorável na morbidade e na mortalidade associadas à pancreatite aguda. 

(b) SARS-CoV-2 pode ser agente causador de pancreatite aguda.  

(c) Para a confirmação ou não desses achados são necessários estudos populacionais.

Mutneja HR et al. Acute pancreatitis in pacients with COVID-19 is more severe and lethal: a systematic review and meta-analysis. Scand J Gastroenterol 2021. Doi: 10.1080/00365521.2021.1971757.

SANGRAMENTO GASTRINTESTINAL EM PACIENTES COM COVID-19: REVISÃO SISTEMÁTICA / METANÁLISE

A enfermidade COVID-19 tem sido descrita por afetar o sistema gastrintestinal com uma série de sintomas (diarreia, náuseas e vômitos) que incluem sangramentos, embora a prevalência destes não seja bem caracterizada (2% a 13% em pacientes hospitalizados). Os autores (Universidade de Bolonha, Itália) procederam a revisão sistemática / metanálise com o propósito de analisar os episódios de sangramentos gastrointestinais e sua associação com mortalidade em pacientes com COVID-19. Foram pesquisados dados de Medline e Embase até dezembro de 2020, com a inclusão de pacientes com COVID-19 com e sem hemorragia digestiva. Foram agrupados dados de prevalência estimada de 95% com intervalos de confiança (IC) e a heterogenicidade expressa como I2.

Dez estudos preencheram os critérios de inclusão e 91.997 pacientes foram admitidos para análise, dos quais 534 apresentaram sangramento gastrintestinal (0,6%).  Destes, 409 (76,6%) hemorragia do trato digestivo alto e 121 (22,7%) hemorragia digestiva baixa.  A taxa global combinada de sangramentos foi de 5% (95% IC 2-8) e heterogenicidade elevada (I2 99,2%).  O “efeito de estudo pequeno” foi observado com a utilização do teste de Egger (p=0,049). Após a remoção de dois estudos com pontos fora da curva, a taxa combinada de sangramento foi de 2% (95% IC 0-4) com elevada heterogenicidade (I2 99,2%) e ausência do “efeito de estudo pequeno”(p=0,257).  A análise de meta regressão demonstrou que as estimativas globais de hemorragia digestiva foram afetadas pelos estudos que descreveram diferentes fontes de sangramentos.  Não foi caracterizada associação significativa entre sangramento gastrintestinal e mortalidade.   Na presente metaanálise de estudos publicados, os indivíduos com COVID-19 estiveram sob risco maior de sangramentos digestivos, especialmente no trato gastrintestinal alto.

Marasco G et al. Gastrointestinal bleeding in COVID-19 patients: a systematic review with meta-analysis. Canad J Gastroenterol Hepatol 2021; article ID 2534975.  https://doi.org/10.1155/2021/2534975.

BEM-SUCEDIDO DISTANCIAMENTO: TELEMEDICINA DURANTE A PANDEMIA COVID-19

Tradicionalmente a telemedicina tem sido utilizada em serviços de saúde para eventos agudos (exemplo:  acidentes vasculares – liberação de dados essenciais para emergência) e conduta em casos crônicos (exemplo: diabetes, doenças renais).  Desde o início da pandemia por COVID-19, a utilização da telemedicina em gastroenterologia aumentou em 4000% nas primeiras duas semanas, o que é equivalente aos últimos seis anos de crescimento antes da pandemia.  O relativo relaxamento burocrático do sistema de telemedicina nos EUA com a facilitação de consultas, menos exigências de licenciamento entre diferentes estados etc., levou ao aumento do uso da telemedicina em casos de pacientes internados e ambulatoriais.   Durante a pandemia a utilização de vídeo para consultas ajuda a fornecer cuidados médicos em tempo hábil, além de permitir proteção aos equipamentos de consultório/exames, diminuindo a exposição de médicos e pacientes,embora isso tenha custos não  reimbolsáveis e não permita a relação direta e pessoal entre médico e paciente.  

Devem ser considerados componentes essenciais da telemedicina, o uso apropriado da tecnologia e equipamentos, treinamento do pessoal de saúde, emprego de plataformas adequadas que possam ser integradas e o emprego de registros eletrônicos de saúde, sem omissão da proteção da privacidade e dos componentes do fluxo de informações.  Por outro lado, pode ser um desafio o encorajamento aos pacientes quanto a procurar ajuda médica remota com equipamento apropriado e melhora das informações fornecidas pela literatura digital sem a necessidade de exame físico presencial. Esses fatos podem ser complicados em pacientes idosos ou com menor audição ou naqueles que se sentem melhor em visitas pessoais.

Os autores (Departamento de Gastroenterologia – Universidade de Arkansas, E.U.A.) fazem no presente artigo a revisão sistemática do tema e discutem como a telemedicina pode ser integrada na prática gastroenterológica/hepatológica, com ênfase na discussão das barreiras que se apresentam e como estas podem ser mitigadas.

Perisetti A et al. Successeful distancing:  telemedicine in Gastroenterology and Hepatology during the COVID-19 pandemic. Digest Dis Science 66:945-953, 2021

Compilação:
Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Livre-Docente de Gastroenterologia. – Fac.Med.USP
Diretor Comunicação – FBG