SINTOMAS GASTRINTESTINAIS ASSOCIADOS COM PROGNÓSTICO DESFAVORÁVEL EM PACIENTES COM COVID-19. ESTUDO RETROSPECTIVO

Em diversos países a pandemia global de COVID-19 colocou um enorme desafio para a economia e para a vida das pessoas. De modo geral, os pacientes com COVID-19 apresentam sintomas respiratórios, embora sintomas gastrintestinais também possam ocorrer. O objetivo do presente trabalho realizado pelo grupo da Universidade Wuhan, China, e Imperial College, Londres, foi analisar as relações entre os sintomas gastrintestinais e o prognóstico da enfermidade em pacientes com COVID-19.

Métodos.  Estudo retrospectivo de coorte realizado em um único centro, onde foram comparados os resultados de pacientes COVID-19 com e sem manifestações gastrintestinais. Foi considerado um conjunto de covariáveis medidos na linha de base (pacientes COVID-19 com sintomas gastrintestinais vs. sem sintomas gastrintestinais), tendo sido observado o escore de propensão, ou seja, a probabilidade de ter uma exposição específica.  

A sobrevivência foi estimada empregando o método Kaplan-Meier e quaisquer diferenças na sobrevivência foram avaliadas com o teste estratificado log-rank-test. 

Para analisar as manifestações gastrintestinais associadas com síndrome de insuficiência respiratória aguda (SIRA), tratamento ventilatório não-invasivo, intubação traqueal, traqueostomia e diálise renal, foram empregados modelos de regressão COX univariável e multivariável.

Resultados.  Dentre 1.113 pacientes elegíveis, 359 pacientes com sintomas gastrintestinais e 718 sem sintomas gastrintestinais apresentaram índices de propensão semelhantes e foram incluídos na análise.  

Pacientes com sintomas gastrintestinais, quando comparados aos sem sintomas gastrintestinais, foram associados com o mesmo risco de óbito, porém com risco maior da ocorrência de SIRA e ventilação mecânica não-invasiva, respectivamente. 

Concussões.  Em pacientes com COVID-19, a presença de manifestações gastrintestinais foi associada a maior risco de SIRA,  ventilação mecânica não invasiva e intubação traqueal.  Não foi associada à mortalidade.

Chen R et al.  Gastrointestinal Symptoms Associated With Unfavourable Prognosis of COVID-19 Patients : A Retrospective Study. Front.Med. 2020; 7: 608259. doi: 10.3389/med2020.608259.

OS SINTOMAS GASTRINTESTINAIS SÃO ASSOCIADOS COM MAIOR RISCO DE MORTALIDADE EM PACIENTES  COM      COVID-19?  REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE

Sintomas gastrintestinais têm sido descritos em pacientes com COVID-19, com numerosas investigações clínicas sugerindo que essas manifestações estão associadas com a gravidade da doença por COVID-19.   A relevância dos sintomas gastrintestinais, assim como a mortalidade de COVID-19 permanecem bastante desconhecida.  O objetivo do presente trabalho, realizado pelo grupo da Universidade de Pequim, China, foi investigar a relação entre os sintomas gastrintestinais e a mortalidade por COVID-19.

Dados sobre sintomas gastrintestinais em pacientes COVID-19 foram pesquisados para os estudos publicados entre 1/dezembro/2019 a        1 /maio/2021 nas seguintes fontes:  PubMed, Embase, Web of Science e Cochrane.  Fontes adicionais de literatura foram obtidas pela triagem de citações nos estudos e revisões recentes.   Somente foram selecionados e incluídos os trabalhos que relataram a mortalidade de pacientes COVID-19 com e sem sintomas gastrintestinais.  Os dados brutos foram agrupados para o cálculo de OR (odds ratio).   A mortalidade foi comparada entre os pacientes com e sem sintomas gastrintestinais e também entre pacientes com e sem sintomas individuais (diarreias, náuseas/vômitos, dor abdominal).

Foram incluídos 53 trabalhos com 55.245 pacientes (4.955 sem sintomas e 50.290 sintomáticos).  A presença de sintomas gastrintestinais não esteve associada com a mortalidade em pacientes COVID-19 (OR=0,88; 95% CI 0,71-1,09; p=0,23).  Quanto aos sintomas individuais, diarreia (OR=1,01; 95% CI 0,72-1,41; p=0,96), náuseas/vômitos (OR=1,16; 95% CI= 0,78-1,71; p=0,46) e dor abdominal (OR=1,55; 95% CI 0,68-3,54; p=0,3) também demonstraram não-relevância com os óbitos dos pacientes COVID-19.

Pelos resultados do trabalho acima concluiu-se que os sintomas gastrintestinais não estão associados com maior mortalidade em pacientes COVID-19.  O valor prognóstico dos sintomas gastrintestinais nesses pacientes, entretanto, exige maiores investigações.

Wang Y et al. Are gastrointestinal symptoms associated with higher risk of Mortality in COVID-19 patients ?  A systematic review and meta-analysis. BMC Gastroenterol 2022;22:106. doi.org/10.1186/s12876-022-02132-0.

COVID-19 E RISCO DE PERFURAÇÃO GASTRINTESTINAL: SÉRIE DE CASOS E REVISÃO DA LITERATURA

COVID-19 consiste em uma doença viral que tem a pneumonia como a sua apresentação mais comum. Numerosas apresentações e complicações têm sido descritas nesses casos, mas a perfuração gastrintestinal particularmente não tem chamado a atenção.  Os autores (Queen Beatrix Regional Hospital, Holanda) relatam três casos que foram internados em seu serviço hospitalar e fazem uma revisão das publicações até o momento.

Três pacientes foram admitidos na UTI com falência respiratória devida a pneumonia por COVID-19, tendo sido entubados.  O primeiro paciente foi tratado com esteroides e, subsequentemente, diagnosticado com perfuração retal no 34o. dia de admissão hospitalar.  O segundo paciente foi tratado com esteroides e tocilizumabe e diagnosticado com perfuração colônica após um dia de administração de neostigmina,  no 14o. dia de admissão hospitalar.  O terceiro paciente foi tratado com esteróides e tocilizumabe, tendo sido diagnosticado com perfuração colônica 4 dias após administração de neostigmina, no 14o. dia de admissão hospitalar.

A revisão da literatura mostrou 25 casos de perfurações, tanto no trato gastrintestinal superior como inferior,  apresentando-se como primeiro sintoma ou durante o curso de hospitalização, frequentemente associadas com o tratamento com esteróides, inibidores da interleucina 6, ou ambos.

Tendo em vista os casos relatados na literatura e os ora apresentados, os autores concluem que a perfuração gastrintestinal é uma complicação rara, porém de muito risco de COVID-19.  O tratamento com tocilizumabe e esteróides podem aumentar o risco dessa complicação e dificultar o diagnóstico.

PaulBulte J et al. COVID-19 and the risk of gastro-intestinal perfuration: a case series and literature review.   J Crit Care 2022 Feb;67:100-103.                  

doi: 10.1016/j.jcrc.2021.10.020.Epub 2021.

Compilação :

– Joaquim Prado P Moraes-Filho

– Professor Associado de Gastroenterologia. – Fac.Med.USP

– Diretor Comunicação – FBG