SINTOMAS GASTRINTESTINAIS SÃO ASSOCIADOS COM A GRAVIDADE DA DOENÇA COVID-19: REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE

Os sintomas gastrintestinais em pacientes com COVID-19 incluem principalmente diarréia, dor abdominal, náuseas e vômitos, com incidência variável, segundo diferentes estudos, de 3% a 39%. Os trabalhos têm sugerido que COVID-19 aparentemente é mais grave em pacientes com sintomas gastrintestinais.  O propósito dos autores do presente trabalho (Nanchang University, Nanchang, China) foi analisar e avaliar a relação entre os sintomas gastrintestinais e a gravidade de COVID-19.

Para a identificação de estudos observacionais com dados sobre manifestações gastrintestinais e gravidade de COVID-19, as seguintes fontes foram pesquisadas em outubro de 2020: PubMed, Web of Science, Science Direct, Embase e Google Scholar, com atenção para: diarréia, dor abdominal, náuseas e vômitos.  A taxa de gravidade e a razão de probabilidade (RP) foram agrupadas e a heterogenicidade foi calculada com o emprego de estatística I2.

Um total  de 21 estudos com 5.285 pacientes foram incluídos na meta-análise. A gravidade de pacientes COVID-19 com diarréia foi 41,1% (95% de intervalo de confiança (CI): 31,0-51,5%) e a RP de associação entre diarréia e gravidade de COVID-19 foi de 1,41 (95% CI:1,05-1,89).  A análise de sensibilidade demonstrou que os resultados para RP e 95% CI foram instáveis.  Quanto à dor abdominal a taxa de gravidade e RP de associação com COVID-19 grave foram 59,3% (95% CI: 41,3-76,4%) e 2,76 (95% CI: 1,59-4,81), respectivamente.  Para náusea: 41,4% (95% CI:23,2-60,7%) e 0,92 (95% CI:0,59-1,43), respectivamente.

A conclusão dos números acima é que em pacientes COVID-19 com sintomas gastrintestinais a taxa de gravidade foi superior a 40%.  Dor abdominal esteve associada a risco de COVID-19 grave em cerca de 2,8 vezes. A relação entre diarréia e a gravidade de COVID-19 foi diferente segundo a região estudada. Náuseas e vômitos constituíram associação limitada ao risco de gravidade de COVID-19.

Zeng W. et al. Gastrointestinal symptoms are associated with severity of coronavirus disease 2019: a systematic review and meta-analysis.  Europ J Gastroenterol Hepatol 2022;34:168-176.  DOI: 10.1097/MEG.0000000000002072.

SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D EM ALTAS DOSES POR CURTO PRAZO PARA COVID-19:  ESTUDO RANDOMIZADO, CONTROLADO POR PLACEBO (ESTUDO SHADE)

A síndrome respiratória aguda associada ao coronavírus-2 (SARS-CoV-2) tem comprometido a vida de milhões de pessoas globalmente e colocado a comunidade médica em grande tensão. O papel terapêutico da suplementação de vitamina D não é conhecido. Esta, que tem papel imunomodulatório, não tem efeito conhecido em indivíduos assintomáticos com deficiência de vitamina D e a infecção SARS-CoV-2.

O presente trabalho randomizado e controlado por placebo objetivou analisar o efeito da suplementação de altas doses de colecalciferol no clareamento (liberação viral) de SARS-CoV-2. Participaram indivíduos deficientes de vitamina D (25(OH)D<20 mg/ml) assintomáticos ou com sintomas leves SARS-CoV-2 RNA positivos.

Os participantes foram randomizados para receber diariamente 60.000 UI colecalciferol (gotas orais nano-líquido) por 7 dias com objetivo terapêutico 25 (OH) D>50 ng/ml (grupo intervenção), ou placebo (grupo controle). Pacientes necessitantes de ventilação invasiva ou com comorbidades importantes foram excluídos. Níveis de 25 (OH)D foram avaliados no dia 7 e a suplementação com colecalciferol foi continuada para aqueles com 25(OH)D < 50 ng/ml no grupo intervenção. RNA de SARS-CoV-2 e marcadores inflamatórios fibrinogênio, dímero-D, procalcitonina e ferritina foram avaliados periodicamente.

Quarenta indivíduos positivos SARS-CoV-2 RNA foram randomizados para os grupos intervenção (n=16) ou controle (n=24). A determinação sérica basal 25(OH)D foi 8,6 (7,1 a 13,1) no grupo intervenção e 9,54 (8,1 a 12,5) ng/ml (p=0,730) no grupo controle. Dez dos 16 pacientes puderam alcançar 25(OH)D>50 ng/ml até o dia 7 e outros 2 até o dia 14 (dia 14 : 25(OH)D níveis de 51,7 (48,9 a 59,5) ng/ml e 15,2 (12,7 a 19,5) ng/ml (<0.001) nos grupos Intervenção e controle, respectivamente.  Dez participantes (62,5%) no grupo intervenção e 5 participantes (20,8%) no grupo controle  (p<0.018) tornaram-se SARS-CoV-2 RNA negativos. Os níveis de fibrinogênio diminuíram significativamente com a suplementação de calciferol (diferença intergrupal 0,70 ng/ml; p=0,007) diferentemente de outros biomarcadores de inflamação.

Os autores (Instituto de Pós-Graduação Médica e Pesquisa, Chandigarh, Índia) concluem que grande proporção de indivíduos deficientes de vitamina D com infecção por SARS-CoV-2 tornaram-se SARS-CoV-2 RNA negativos após suplementação de altas doses de colecalciferol, com redução significativa de fibrinogênio.

Rastogi A et al. Short term, high-dose vitamin D supplementation for COVID-19 disease: a randomised, placebo-controlled, study (SHADE study). Postgrad Med J 2022;98:87-90.                DOI: 10.1136/postgradmedj-2020-139065.

REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE DE ESTUDOS COHORTE EM 2020 COMPARANDO A SAÚDE MENTAL ANTES VERSUS DURANTE A PANDEMIA COVID-19

Até fevereiro de 2020 a pandemia de COVID-19 foi responsável por mais de 2,5 milhões de óbitos em todo o mundo.  Dentro desse contexto, a Organização Mundial da Saúde, OMS,  tem manifestado preocupação sobre a potencial crise mental alimentada pela pandemia bem como a eventual associação entre condições mentais e restrições sociais impostas pelos governos com o propósito de reduzir a transmissão viral.

Problemas com a saúde mental têm sido observados durante a pandemia por COVID-19. Nesse contexto, os objetivos do presente trabalho conduzido por grupos da Universidade de Liverpool, UK, e Universidade Maynooth, Irlanda, foram examinar a extensão em que os sintomas mentais se alteraram durante a pandemia em 2020, se as alterações foram persistentes ou de curta duração e, se as alterações foram específicas.

Com esse objetivo, foi realizada revisão sistemática e meta-análise de estudos do tipo cohorte com observação à saúde mental entre o mesmo grupo de participantes antes e durante o período pandêmico em 2020.  Foram incluídos 65 estudos e os resultados foram os seguintes.  Quando comparados ao período pré-surto, foi observado um aumento global nos sintomas relacionados à saúde mental durante o período de março-abril de 2020 (SMC= ,102(95% CI: .026 a .192) os quais declinaram significativamente com o decorrer do tempo, tornando-se não-significantes  (maio a julho SMC=  .067 (95% CI:  .022 a  .157).  Comparadas às medidas de ansiedade (SMC=0.13, p=0,02) e saúde mental em geral (SMC= .03, p=0.65) os aumentos na depressão e sintomas de alterações de humor tendem a ser maiores e permaneceram significativamente elevados em maio-junho (0.20, 95% CI: .0.99 a .302).  Na análise preliminar os aumentos foram mais pronunciados dentre as amostras com condições físicas saudáveis e não ocorreu evidência de qualquer alteração nos sintomas entre as amostras com condições de saúde mentais pré-existentes.    Vale comentar que ocorreu um elevado grau de heterogenicidade (I2s>90%), indicando que a alteração na saúde mental foi muito variável entre as amostras.

Concluíram os autores que houve um pequeno aumento nos sintomas de saúde mental logo após o início do surto pandêmico COVID-19 o qual diminuiu e se tornou comparável aos níveis pré-pandêmicos em meados de 2020 na maioria dos subgrupos e tipos sintomáticos.

Robinson E et al. A systematic review and meta-analysis of longitudinal cohort studies comparing mental health before versus during the COVID-19 pandemic in 2020. J Affect Disord 2022;296:567-576. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.09.098.

Compilação:

Joaquim Prado P Moraes-Filho

– Professor Associado de Gastroenterologia. – Fac.Med.USP

– Diretor Comunicação – FBG