Manifestações digestivas em pacientes graves com SARS-CoV-2

Com o objetivo de estudar os sintomas gastrintestinais em pacientes infectados com COVID-19 (SARS-CoV-2) com síndrome respiratória aguda grave, analisou-se 95 casos documentados.  Foram observados dados epidemiológicos, demográficos, clínicos e laboratoriais.   Para detectar a presença de SARS-CoV-2 nas fezes e em tecidos gastrintestinais, foi utilizada a transcriptase reversa em tempo real, PCR.

Dentre os 95 pacientes, 58 exibiram manifestações gastrintestinais, dos quais 11 (11,6%) ocorrem durante admissão e 47 (49,5%) durante o período de internação hospitalar. Diarreia (24,2%), anorexia (17,9%) e náusea (17,9%) foram os principais sintomas, com cinco (5,3%), cinco (5,3%) e três (3,2%) casos, respectivamente, ocorrendo no início da enfermidade.   Um número substancial de pacientes desenvolveu diarreia durante a hospitalização, a qual foi potencialmente agravada pelo uso de diversos fármacos, inclusive antibióticos.  Amostras fecais de 65 pacientes hospitalizados foram testados para a presença de SARS-CoV-2, inclusive 42 com manifestações digestivas e 23 sem queixas gastrintestinais, dos quais 22 (52,2%) e 9 (39,1%) foram positivos, respectivamente.

Foi realizada a endoscopia digestiva em seis pacientes com sintomas gastrintestinais, tendo revelado hemorragia com erosões e úlceras em um paciente grave. O RNA de SARS-CoV-2 foi detectado em amostras do esôfago, estômago, duodeno e reto de dois pacientes graves.  Em contraste, somente o duodeno foi positivo em um dentre quatro pacientes não-graves.

Os autores concluem que o trato gastrintestinal pode ser uma rota de transmissão e órgão alvo do SARS-CoV-2.

Referência: Lin L et al. Gastrointestinal symptoms of 95 cases with SARS CoV-2 infection. GUT 2020;69:997

Professor Livre-Docente FMUSP

Diretor de Comunicação – FBG

Joaquim Prado P Moraes-Filho