Evidências têm indicado que COVID-19 pode também se apresentar com sintomas gastrintestinais incluindo diarreia, náuseas, vômitos, disgeusia e dor abdominal. A precisa relação entre inibidores da bomba protônica (IBP) e COVID-19 não está bem estabelecida, uma vez que estudos têm indicado que pH gástrico baixo (<3) pode impedir a infectividade de SARS-CoV-1. Por outro lado, a supressão da acidez gástrica por IBP pode permitir que SARS-CoV-1 penetre nos enterócitos com replicação viral, levando ao aumento das manifestações gastrintestinais, com colite e enterite. Além disso, essa condição pode também facilitar a disseminação da infecção viral para outros órgãos como pulmão e fígado, com elevação da gravidade de enfermidade COVID-19.
Investigadores de diversas renomadas universidades norte-americanas, sob a hipótese de que a pré-exposição aos IBP antes de hospitalização pode estar associada com piores resultados clínicos dentre os pacientes COVID-19 hospitalizados, estudaram a possibilidade dessa associação.
Foram incluídos no estudo 295 pacientes hospitalizados por COVID-19. Destes, 15,6% estiverem recebendo IBP antes da internação. A mortalidade dentre os usuários de IBP foi 2,3 vezes maior do que dentre os não-usuários, e um risco 2,3 maior de desconforto respiratório agudo.
Concluem que a exposição pré-hospitalização aos IBP está independentemente associada a piores resultados clínicos, aí se incluindo a mortalidade dos pacientes COVID-19, independentemente de eventuais comorbidades cardiovasculares.
Ramachandran P et al. Pre-hospitalization proton pump inhibitor use and clinical outcomes in COVID-19. Eur J Gastroenterol Hepatol 2022;34:137-141. doi:10.1097/MEG0000000000002013.
IMPACTO DE COVID-19 EM PACIENTES COM SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL COM ANSIEDADE E/OU DEPRESSÃO
É sabido que pacientes com síndrome do intestino irritável (SII) com comorbidades ansiedade e depressão descrevem piora dos sintomas e redução na qualidade de vida quando comparados àqueles com SII isoladamente. A pandemia de COVID-19 tem o potencial de agravar sintomas nos pacientes com SII e ansiedade e/ou depressão.
O objetivo do presente trabalho realizado por grupo da Universidade de Washington, E.U.A., foi descrever a influência da pandemia de COVID-19 na capacitação profissional e a influência do desgaste psicológico nos sintomas gastrintestinais em pacientes com síndrome do intestino irritável (SII) que apresentam ansiedade e/ou depressão.
Foram incluídos pacientes que preencheram os critérios de Roma IV e relataram ansiedade e/ou depressão leve a intensa. Os participantes preencheram uma pesquisa on-line com dados demográficos e perguntas sobre ansiedade, depressão, impacto da COVID-19 nas atividades em geral e nos sintomas gastrintestinais.
Participaram do estudo 55 indivíduos. A pandemia de COVID-19 comumente prejudicou a capacidade dos mesmos de passar parte do seu tempo com amigos e família, nas compras de determinados alimentos e o acesso ao sistema de saúde. Os participantes do estudo também relataram aumento do estresse (92%), ansiedade (81%) e dos sintomas depressivos (67%). Em cerca de metade da amostra foram relatados aumentos na percepção de dor abdominal (48%), diarreia (45%) ou constipação intestinal (44%).
Concluem que a pandemia de COVID-19 está relacionada a aumentos no desconforto psicológico e sintomas gastrintestinais dentre os pacientes com SII que apresentam concomitantemente ansiedade e/ou depressão.
Kendra K et al. Impact of COVID-19 on Individuals With Irritable Bowel Syndrome and Comorbid Anxiety e/or Depression. J Clin Gastroenterol 202;56:e149-e152. doi: 10.1097/MCG0000000000001515.
DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D É AGRAVANTE DE COVID-19: REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE
A pandemia de COVID-19 tem levado a discussões sobre benefícios da vitamina D na prevenção e tratamento da enfermidade. O tema foi levantado porque níveis sanguíneos satisfatórios de vitamina D desempenham papel efetivo no funcionamento do sistema imune, o que pode ajudar na resposta celular e proteção contra infecções graves causadas por microorganismos.
Tendo em vista a natureza terapêutica essencialmente prática do tema, e que existem limitadas evidências sobre a influência da vitamina D nesses pacientes, os autores da Universidade Federal da Bahia, realizaram cuidadosa revisão com atenção para os aspectos acima. As seguintes bases de dados foram pesquisadas: Embase, Pubmed, Scopus, Web of Science, Science Direct e Medrevix (preprint). Os critérios de inclusão foram estudos observacionais que avaliaram a vitamina D em adultos e idosos com COVID-19. O resultado principal constituiu na observação da prevalência de deficiência de vitamina D nos casos graves.
Foram identificados 1.542 artigos, dos quais 27 foram selecionados. A deficiência de vitamina D não esteve associada com maior probabilidade de infecção por COVID-19 (OR=1,35; 95% CI=0,80-1,88), mas foram caracterizados que os casos mais graves de COVID-19, quando comparados aos casos mais leves apresentaram 64% de maior deficiência de vitamina D (OR=1,64; 95% CI=1,30-2,09). A concentração insuficiente de vitamina D aumentou hospitalizações (OR=1,81; 95% CI=1,41-2,21) e mortalidade por COVID-19 (OR=1,82; 95% CI=1,06-2,58). Os resultados permitiram concluir sobre possível associação entre deficiência de vitamina D e a gravidade da doença infecciosa.
Pereira M et al. Vitamin D deficiency aggravates COVID-19: systematic review and meta-analysis. Critical Reviews in food science and nutrition 2022;62:1308-1361. doi: 10.1080/10408398.2020.1841090.
Compilação:
Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Associado de Gastroenterologia. – Fac. Med. USP Diretor Comunicação – FBG