Aspectos da transmissão hospitalar

–  A transmissão hospitalar do COVID-19 tem desempenhado papel importante na disseminação viral, gerando enorme pressão nos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, atendentes, fisioterapeutas e outros), nos pacientes e na comunidade social em geral (Lancet 2020;396:922).

– Os procedimentos médico-cirúrgicos não apresentam o mesmo risco para a transmissão viral.  Apesar das gotículas contaminadas presentes no ar e nas superfícies de contato constituírem a rota dominante para a transmissão, os aerossóis devem ser considerados um fator de risco adicional (suspensão de partículas sólidas em meio gasoso e embalagem com conteúdo gasoso para dispersão). Nesse caso, a endoscopia digestiva e intervenções cirúrgicas representam riscos potenciais pelos procedimentos gerados pelo aerossol, colocando em maior risco os profissionais de saúde. (Repici A et al. Gastrointest Endosc 2020. Acesso 03/04/2020).

– A prevenção da transmissão do COVID-19 para os profissionais de saúde pode ser bastante efetiva.  As gotículas podem ser interrompidas pelo uso de uma simples máscara cirúrgica, enquanto o contato propriamente dito pode ser mitigado pela cuidadosa limpeza e desinfecção.  A máscara N95 (e equivalentes), por exemplo, constitui ferramenta de prevenção de propagação aérea. (www.ecdc.europa.eu/sites/default/files/documents/COVID-19-infection-prevention-and-control-healthcare-settings-march-2020.pdf.Acesso01/04/2020).

– Pacientes com COVID-19 que apresentaram sintomas digestivos demonstraram  ter pior prognóstico do que aqueles que não tiveram essas manifestações/queixas (estudo chinês, 204 pacientes). Os portadores de sintomas atípicos, por exemplo, diarréia, podem também apresentar manifestações de COVID-19 e, os médicos devem considerar esses sintomas na observação médica inicial. Em alguns casos, as queixas digestivas, particularmente diarreia, podem constituir a manifestação inicial do COVID-19 e, somente mais tarde ou, eventualmente nunca, venham a ocorrer sintomas respiratórios e febre. Exame de fezes para ácido nucléico viral deve ser considerado nesses casos: estudos têm demonstrado que tais achados podem estar presentes em 53,4% dos pacientes infectados. (Rakel D. Am J Gastroenterol, março 2020. Acesso: 03/04/2020).

Joaquim Prado P Moraes-Filho

Diretor de Comunicação da FBG e Professor Livre-Docente da Universidade de São Paulo (USP)