ASSOCIAÇÃO ENTRE O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL E GRAVIDADE DE COVID-19

No início da pandemia por COVID-19 a obesidade havia sido implicada como fator de risco clinicamente significativo para a gravidade da enfermidade.  Numerosos estudos confirmaram essa possibilidade, mas é importante assinalar que estes podem estar submetidos ao evento estatístico denominado “viés de evento de índice”, que possibilita resultados enganosos. Com o objetivo de minimizar essa possibilidade foi projetado o presente trabalho coordenado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Considerando que a obesidade constitui importante fator de risco para a ocorrência de maus resultados pós-infecção COVID-19, a associação índice de massa corporal (IMC) e resultados clínicos foi cuidadosamente analisada, incluindo interações  com características demográficas, étnicas e comportamentais, diabetes tipo 2 e outras condições de saúde.

Estudo prospectivo, tipo coorte, baseado em comunidade, em que foram utilizadas informações de uma base de dados de clínicos gerais (QResearch database) da Inglaterra. Foram incluídas informações, incluindo IMC, de pacientes maiores de 20 anos registrados no banco de dados QResearch entre 24 de janeiro de 2020 (data da primeira infecção registrada no Reino Unido)  e 30 de abril de 2020. As informações obtidas incluíram dados demográficos, clínicos, positividade para testes SARS-CoV-2 e atestados de óbito. Também foram registrados  os resultados de exames dos pacientes por ocasião da admissão hospitalar, em unidades de terapia intensiva (UTI), bem como  óbitos em decorrência de COVID-19.  Para a análise de riscos associados às características demográficas, fatores comportamentais e comorbidades, foram empregados métodos estatísticos apropriados (“Cox“).

Dentre 6.910.695 indivíduos elegíveis  (IMC média = 26,78kg/m2),  13.503 (0,20%) foram hospitalizados, 1.601  (0,02%) em UTI e 5.479 (0,08%) faleceram após teste positivo para SARS-C0V-2.  Foi caracterizada interação significativa  entre IMC e idade e etnias, com maior razão de risco em IMC acima de 23 k/m2 para população no grupo 20-39 anos versus grupo etário 80-100 anos de idade, raça negra versus raça branca.  O risco de admissão hospitalar e em UTI (devido a COVID-19 associado com o aumento de IMC) foi ligeiramente mais baixo em pacientes com diabetes tipo 2, hipertensão e doença cardiovascular, do que aqueles sem essas comorbidades.

Os autores concluem que IMC > 23 Kg/m2, caracterizou um aumento de risco linear de COVID-19 grave levando à hospitalização e morte.   IMC > 23 Kg/m2 também caracterizou aumento linear na admissão a UTI em todo o espectro de IMC, o qual não é atribuível ao excesso de risco das doenças relacionadas.  O risco relativo devido à elevação do IMC é particularmente importante em jovens com menos de 40 anos de idade e de etnia negra.

Gao M et al.www.thelancet.com/diabetes-endocrinology. Published on line April 28, 2021. https://doi.org/10.1016/S2213-8587(21)00089-9.

IMPACTO DO ISOLAMENTO SOCIAL (COVID-19)  NA QUALIDADE DO SONO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E PESSOAL ADMINISTRATIVO

O isolamento social por COVID-19, considerado emergência de saúde pública, iniciou-se na Itália em 10 de março de 2020 e foi parcialmente encerrado em 3 de maio de 2020. Essa medida, tal como ocorreu em outros países, permitiu redução no uso do sistema nacional de saúde e limitou a infecção viral.  As restrições sociais, entretanto,  mudaram significativamente os estilos de vida e relações sociais gerando, em muitos indivíduos, níveis aumentados de ansiedade também devido ao temor de serem infectados.  Na população em geral os níveis de estresse psicológico e sintomas de esgotamento mental aumentaram significativamente com piora na qualidade do sono.

O presente trabalho, realizado pelo grupo de neurologia/psicologia da  Universidade San Raffaele, Milão, Itália, incluiu 400 voluntários: 307 estudantes (idade média : 22,84±2,68) e 93 trabalhadores administrativos da universidade (idade média : 37±12,46).  Os participantes completaram uma investigação anônima pela internet que incluía conhecidos questionários sobre o sono e sintomas de ansiedade e depressão.   Nenhum dos participantes referiu sintomas de COVID-19.

Foram observados aumentos na hora de dormir, aumentos na latência de sono e na hora de despertar antes e durante a emergência de       COVID-19. Foram também caracterizados piora da qualidade do sono e sintomas de insônia. O impacto no aumento na hora de dormir e no despertar foi mais pronunciado em estudantes durante o isolamento social.   Dentre os trabalhadores administrativos em geral foi observada prevalência de manutenção de insônia antes de       COVID-19 (em 24%), tendo aumentado significativamente (40%) durante COVID-19.  O grupo dos trabalhadores administrativos com dificuldade no início do sono foi inicialmente 15% tendo se elevado a 42%.   Sintomas depressivos foram observados em 27,8% e sintomas de ansiedade em 34,3%, particularmente em estudantes.

Os autores concluiram que o impacto do isolamento social foi maior em estudantes do que em trabalhadores administrativos e também maior no sexo feminino do que no sexo masculino.  Em relação aos aspectos psico-emocionais, cerca de 1/3 da amostra estudada apresentou sintomas de depressão ou ansiedade.  Os resultados do presente trabalho podem fornecer dados que suportam a implementação de intervenções para o bem estar na condição pandêmica.

Marelli S et al. Impact of COVID-19 lockdown on sleep quality in university students and administration staff. J Neurol 2021;268:8-15. http::/doi.org/1007/s00415-020-10056-6.

DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D COMO PREDITOR DE PIOR PROGNÓSTICO EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA AGUDA POR COVID-19

Hipovitaminose D é uma condição que se relaciona com o aumento de risco em infecções respiratórias. Em pacientes acometidos na pandemia de COVID-19, a reação hiperinflamatória “tempestade de citocina” está associada com a gravidade da enfermidade. Tendo em vista o papel da vitamina D no sistema imune, o presente trabalho objetivou analisar os níveis de vitamina D em pacientes com insuficiência respiratória aguda por COVID-19 e analisar eventuais correlações com a gravidade da doença e respectivo prognóstico.

No presente estudo retrospectivo, observacional, foram analisados dados demográficos, clínicos e laboratoriais de 42 pacientes com insuficiência respiratória aguda por COVID-19 tratados na Unidade de Cuidados Respiratórios  da Policlínica de Bari  (Universidade de Bari, Itália) no período de 11 de março a 30 de abril de 2020.

Os resultados mostraram que 81% dos pacientes apresentavam hipovitaminose D. Tomando por base os níveis séricos de vitamina D, a população foi estratificada em quatro grupos: (1) ausência de hipovitaminose; (2) insuficiência; (3) deficiência moderada; (4) deficiência grave.   Não foram observadas diferenças quanto às características clínicas e demográficas.  A análise se sobrevivência demonstrou que, após 10 dias de hospitalização, a probabilidade de morte foi de 50% em pacientes com deficiência grave de vitamina D, enquanto pacientes com níveis de vitamina D≥10 ng/mL apresentaram risco de mortalidade de 5% (p=0,019).

Os autores concluem que pacientes COVID-19 com insuficiência respiratória aguda tratados em unidade de terapia intensiva apresentaram elevada prevalência de hipovitaminose D.  Pacientes com deficiência grave de vitamina D apresentaram risco significativamente maior de mortalidade. A deficiência grave de vitamina D pode constituir um marcador de pior prognóstico nesses pacientes, sugerindo que o tratamento adjuvante pode contribuir para a melhora dos resultados finais da doença.

Carpagnano GE et al. Vitamin deficiency as a predictor of poor prognosis in patients with acute respiratory failure due to COVID-19.  J endocrinol Invest 2021;44:765-771. https://doi.org/10.1007/s40618-020-01370-x

Compilação:

Joaquim Prado P Moraes-Filho

Professor Livre-Docente de Gastroenterologia

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo