Pacientes com coronavirus COVID-19 frequentemente apresentam alterações agudas na química hepática, sendo mais comuns as relaciondas às aspartato amino-transferases (AST) que podem ser graves e associadas com piores desfechos.
No presente trabalho, os autores da Escola de Medicina Donald e Barbara Zucker, Manhasset, N.Y., EUA, descrevem os primeiros casos de colangiopatia única e grave em pacientes que se recuperaram de COVID-19 e vieram a desenvolver colestase crônica e dano hepático.
São descritos os achados clínicos e histopatológicos de tres adultos que não apresentaram enfermidade hepática pre-existente. Os pacientes tiveram hospitalização prolongada por insuficiência respiratória hipoxêmica aguda que exigiu ventilação mecânica e múltiplas complicações adicionais por COVID-19. Na admissão, a química hepática se apresentava normal ou ligeiramente elevada. A seguir as transaminases foram se elevando e ocorreu o desenvolvimento de colestase acentuada associada a prolongada icterícia, a qual persistiu após a recuperação cardiopulmonar e renal.
Histopatologicamente esses pacientes apresentaram dano colangiocítico acompanhando alterações microvasculares. Um dos pacientes apresentou colestase obstrutiva típica e evidências de fibrose em ponte, os quais indicam risco de progressão para cirrose biliar secundária.
Em resumo, os pacientes estudados apresentaram achados clinicos e histológicos similares à colangite esclerosante secundária de pacientes em estado crítico. Nesses casos, porém, os únicos achados histológicos incluem dano colangiocítico grave e microangiopatia intrahepática sugestivos de dano hepático direto pelo COVID-19. Concluem que os casos apresentados constituem uma nova colangiopatia grave pós-COVID-19 com potencial para morbidade hepática a longo prazo.
Roth NC. Post-COVID-19 cholangiopathy: a novel entity. Am J Gastroenterol 2021;116:1077.
ESTATINAS REDUZEM A MORTALIDADE EM PACIENTES COM COVID-19 : META-ANÁLISE DE 147.824 PACIENTES
Conflitos de evidência tem ocorrido sobre a real utilidade do uso de estatinas nos resultados clínicos de pacientes comCOVID-19. Com o objetivo de analisar os diferentes resultados de publicações sobre o emprego de estatinas sobre a mortalidade desses pacientes, os autores da Universidad San Ignacio de Loyola, Lima, Peru, realizaram cuidadosa revisão e meta-análise dos trabalhos publicados.
Foram pesquisados dados eletrônicos encontrados até março de 2021. Efeitos da droga em questão (ajustados e não-ajustados) foram considerados com intervalos de confiança de 95% (95% CI) empregando modelos de efeitos aleatórios. Foram incluidos 25 estudos de coorte envolvendo 147.824 pacientes. A idade média variou de 44,9 a 70,9 anos e 57% dos pacientes foram do sexo masculino. O uso de estatina não estava associado com a mortalidade quando se utilizou razão de risco não ajustada (uRR, 1,16; 95% CI; 0,86-1,57, 19 estudos). Por outro lado, meta-análises ( 11 estudos: aOR, 0,67; 95% CI, 052-0,86) e (10 estudos : AHR, 0,73; 95% CI, 0,58-0,91) mostraram que as estatinas estiveram associadas com redução significativa da mortalidade. Análises de sub-grupos revelaram que o uso crônico de estatinas reduziu significativamente a mortalidade segundo os modelos aplicados.
Os autores concluem que o uso de estatinas, nos trabalhos analisados estava associado com menor risco de mortalidade em pacientes COVID-19. De todo modo, tendo em vista a complexidade do tema, trabalhos randomizados e controlados são necessários para a confirmação dos presentes achados.
Diaz-Arocutipa C et al. Statins reduce mortality in patients with COVID-9: an updated meta-analysis of 147,824 patients. Int J Infect Dis 2021; 110:374.
EFEITOS DO CONFINAMENTO DOMICILIAR NA SAÚDE MENTAL E COMPORTAMENTOS DE ESTILO DE VIDA DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: PERCEPÇÕES DO ESTUDO MULTICÊNTRICO ECLB-COVID-19
Embora reconhecidas como efetivas as medidas para contenção para a propagação de COVID-19, tem sido sugerido que o distanciamento social e auto-isolamento geram transtornos na população. Com o propósito de obter dados científicos para auxiliar na identificação de fatores de risco para o aspecto psicosossocial durante o surto de COVID-19, uma pesquisa internacional online interdisciplinar foi circulada em abril de 2020. O presente trabalho, coordenado pela Universidade de Magdeburg, Alemanha, descreve as consequências mentais, emocionais e comportamentais do confinamento domiciliar pelo COVID-19.
A investigação eletrônica ECLB-COVID-19 foi desenhada e dirigida por um grupo multidisciplinar de cientistas, seguindo uma revisão estruturada da literatura científica. A pequisa foi carregada e partilhada online na plataforma Google e promovida por trinta e cinco organizações de pesquisa da Europa, norte da Africa, Asia ocidental e Americas. As questões foram apresentadas em diferentes formatos, com perguntas relacionadas a respostas “antes”e “durante” o período de confinamento. Foram analisadas 1.047 respostas (54% mulheres) da Ásia ocidental (36%), norte da Africa (40%), Europa (21%) e outros continentes (3%).
O confinamento domiciliar pelo COVID-19 evocou um efeito negativo no status de bem-estar mental e emocional (p<0,001;0,43<d<0,65) com maior proporção de indivíduos experimentando transtornos psicossociais e emocionais (+10% a + 16,5%). Tais problemas psicossociais foram associados com comportamentos de estilo de vida pouco saudáveis, com maior proporção de indivíduos expeimentando (a) inatividade física (+15,2%) e social (+71,2%); (b) má qualidade de sono (+12,8%); (c) dieta pouco saudável (+10%); (d) desemprego (6%). Por outro lado, os participantes demonstraram uso maior de tecnologia durante o confinamento 15%).
Os presentes achados elucidam os riscos de tensão psico-social durante o confinamento doméstico por COVID-19 e mostram a necessidade urgente de intervenção baseada em tecnologia para a adoção de estilo de vida de confinamento ativo e saudável.
Ammar A et al. Effects of home confinement on mental health and lifestyle behaviours during the COVID-19 outbreak: insights from the ECLB-COVID-19 multicenter study. Biol Sport 2021;38:9.
Compilação:
Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Livre-Docente de Gastroenterologia. – Fac.Med. USP
Diretor Comunicação – FBG