COVID-19: ocorrência de manifestações bucais, características clínicas de pacientes com sintomas digestivos e baixos níveis plasmáticos de vitamina D são associados com maior risco de infecção por COVID-19

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COVID-19 GASTROENTEROLOGIA  (11)


COVID-19 : ocorrência de manifestações bucais
Pesquisadores espanhóis sugerem que em adição à longa lista de manifestações pode haver a ocorrência de enantema ou rash na boca de pacientes com COVID-19.

Foram estudados 21 pacientes consecutivos em um hospital terciário em Madrid (Hospital Universitário Ramon y Cajal) com rash cutâneo que haviam testado positivo para SARS-CoV-2 por exame de reação de cadeia de polimerase transcriptase reversa em tempo real que necessitaram consulta dermatológica. Foi examinada a cavidade oral nesses casos.  

Dos pacientes observados com rash cutâneo, 6 (idades : 40 a 69 anos; 4 mulheres) apresentaram também  lesões bucais que apareceram cerca de duas semanas após o início dos sintomas. Lesões cutâneas tem sido descritas em pacientes com infecção grave, mas os autores observaram que não está claro se tais manifestações são diretamente relacionadas à infecção de COVID-19, porque tanto as infecções virais como reações adversas são causas frequentes de exantemas. Foi também constatado que investigações anteriores já tinham caracterizado padrões petequiais e eritemato-vesicular em infecções virais, com exame da cavidade oral. 

Destaca-se que a média do tempo entre o início de sintomas e o aparecimento de lesões foi de 12,3 dias (média de -2 a 24 dias), sem alterações laboratoriais. O enantema estava localizado no palato dos pacientes, em três dos quais enantema macular com petéquias, dois com petéquias, e um macular. Foi observado que nenhum paciente apresentou enantema eritemato-vesicular. 

É reconhecido que o número de pacientes estudados é limitado, mas concluem que a presença de eritema é uma indicação que sugere mais etiologia viral do que reação adversa a drogas, especialmente quando é observado um padrão petequial. 

Convém mencionar que pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19, geralmente, não são avaliados para enantema, particularmente a cavidade oral que não é examinada por razões de segurança. 

Cahue JJ et al. Enanthem in patients with COVID-19 and skin rash. JAMA Dermatol. On line July 15,2020. doi: 10.1001/jamadermatol 2020.2550  

Características clínicas de pacientes com COVID-19 com sintomas digestivos 

Com o objetivo de investigar a prevalência e as manifestações digestivas que tem sido sinalizadas em pacientes com COVID-19, foram incluídos 204 pacientes e analisados os dados laboratoriais, de imagem e dados de anamnese de três hospitais de Huwei entre janeiro e fevereiro de 2020. 

Foram incluídos 107 homens e 97 mulheres com média etária de 52,9 anos. Ainda que muitos pacientes tenham se apresentado com febre e sintomas respiratórios, 103 deles (50,5%) referiram pelo menos uma manifestação digestiva, incluindo falta de apetite (81 casos-78,6%), diarreia (35 casos-34%), vômitos (4 casos-3,9%) e dor abdominal (2 casos-1,9%). Quando a falta de apetite é excluída da análise (porque é menos específica para o trato digestivo), ocorreram 38 casos (18,6%) de pacientes que apresentaram sintomas digestivos específicos incluindo diarreia, vômitos ou dor abdominal.  

É particularmente notório que os pacientes com manifestações digestivas apresentaram um tempo significativamente maior desde o início das manifestações até a admissão hospitalar do que os pacientes  sem queixas digestivas (9,0 vs. 7,0 dias).  Seis pacientes referiram sintomas digestivos, mas não respiratórios.  A medida que aumentou a gravidade da doença, os sintomas digestivos se tornaram mais pronunciados. Os casos analisados apresentaram enzimas hepáticas mais elevadas, baixa contagem de monócitos, tempo de protrobina prolongado e receberam mais tratamento antibiótico do que aqueles sem manifestações digestivas. 

Os autores concluíram que os sintomas digestivos são comuns em pacientes com COVID-19. Esses pacientes levam um tempo maior entre o início do quadro e a hospitalização.  Os clínicos devem reconhecer os sintomas digestivos como a diarreia, por exemplo, são bastante comuns e o índice de suspeita deve ser mais elevado e mais precoce em pacientes de alto risco com manifestações digestivas.  Estudos futuros de massa são necessários para confirmar tais achados. 

Pan L et al. Clinical characteristics of COVID-19 patients with digestive symptoms in Hubei, China: a descriptive, cross-seccional,multicenter study. Am J Gastroenterol 2020; 115:766.

Baixos níveis plasmáticos de vitamina D são associados com maior risco de infecção por COVID-19 

Com o objetivo de avaliar a associação entre hidroxivitamina D, 25(OH)D, plasmático e a probabilidade de infecção por coronavírus COVID-19, foi realizado um estudo populacional em Israel incluindo 14.000 membros do Leumit Health Services durante o mes de abril de 2020. 

As pessoas que foram analisadas possuíam, pelo menos, um teste sanguíneo prévio para o nível sérico de 25(OH)D. Nível plasmático  “subótimo”ou “baixo” foi definido quando a concentração plasmática de 25-hidroxivitamina D – 25(OH)D se encontrava abaixo de 30 ng/mL. 

Os resultados mostraram que dentre 7.807 indivíduos, 782 (10,1%) foram positivos para COVID-19 e 7.025 (89,9%) se apresentaram negativos.  O nível plasmático médio de vitamina D estava significativamente menor entre os que testaram positivo para COVID-19 em comparação com os que apresentaram resultado negativo.  Análise univariada demonstrou associação entre baixo nível plasmático de 25(OH)D e probabilidade aumentada de infecção por COVID-19 e de hospitalização devido ao vírus SARS-CoV-2. 

Análise multivariada demonstrou que idades superiores a 50 anos, sexo masculino e estado socioeconômico baixo-médio estavam positivamente associados aos riscos de infecção por COVID-19 e idades superiores a 50 anos com maior probabilidade de hospitalização.

Em conclusão, níveis baixos de 25(OH)D parecem constituir um fator de risco independente para infecção e hospitalização por COVID-19. 

Merzon E et al. Low plasma 25(OH) vitamin level is associated with increased risk of COVID-19 infection: an israeli population-based study.The FEBS Journalattps://doi.org/10.1111/febs.15495. Ac 30/08/2020

Dr. Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor livre-docente de gastroenterologia – Fac .Med. Univ. São Paulo (FMUSP)
Diretor de comunicação – FBG