ESÔFAGO DE BARRETT E CÂNCER ESOFAGOGÁSTRICO: IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19

A pandemia de COVID-19 alterou de modo significativo os serviços de gastroenterologia em todo o mundo. À medida que aumentavam as frequências de infecções relacionadas à pandemia,  os profissionais de saúde foram avisados que os exames endoscópicos deveriam ser imediatamente suspensos, à exceção de casos emergenciais.  A endoscopia digestiva alta (EDA) foi considerada um procedimento de alto risco em decorrência do grande potencial de aerolização e transmissão do vírus SARS-CoV-2. O resultante declínio nas atividades endoscópicas têm sido rápido e muito significativo e entidades médicas representativas como a Sociedade Britânica de Gastroenterologia continuam alertando contra a endoscopia diagnóstica, sendo o exame reservado para procedimentos de urgência. 

Os autores do presente trabalho, da Universidade de Belfast da Irlanda do Norte (Queen’s University Belfast) dentre outros centros irlandeses representativos, descreveram o impacto da pandemia de COVID-19 no diagnóstico patológico do esôfago de Barrett (EB) e câncer esofagogástrico (CEG) por meio de análise de banco de dados da Irlanda do Norte. O registro nacional representa a população local, com cerca de 1,9 milhões de habitantes e os 4 laboratórios de anatomia patológica da região.
Entre março e setembro de 2020, a proporção de diagnósticos de CEG declinou 26,6% quando comparado com prazo equivalente em 2017 a 2019.  No total, foram numericamente diagnosticados 53 casos a menos de CEG entre março e setembro de 2020.  Quanto aos casos de EB, a proporção de diagnósticos reduziu-se de 59,3% quando comparado com o mesmo período em 2017 a 2020. Ocorreu limitada recuperação nos meses seguintes, com EB permanecendo 20% abaixo dos níveis esperados ao fim de cada período de observação. Nesse período, ocorreram numericamente 236 casos a menos de EB do que o esperado.

Caracterizou-se grande impacto de COVID-17 no EB e CEG, com acentuada queda nos diagnósticos patológicos, principalmente nos estágios iniciais da pandemia.  Embora o diagnóstico de CEG revele alguns sinais de recuperação, a detecção e monitoramento do EB continua muito abaixo das frequências esperadas.  Nesse caso a interrupção da investigação de EB pode ter consequências clínicas importantes, embora o risco de progressão maligna de pequenos segmentos não displásicos de EB seja relativamente baixo e, portanto, um atraso de 6 ou mais meses não venha a se constituir em risco maior para esse grupo de pacientes. Para os casos de EB de alto risco, todavia, os efeitos da suspensão de acompanhamento podem ser substanciais. 

É imperativo que os serviços de endoscopia estejam protegidos durante as ondas subsequentes da pandemia a fim de preservar a capacidade de detectar e diagnosticar rapidamente o câncer e as condições pré-malignas.

Turkington RC et al. The impact of the COVID-19 Pandemic on Barrett’s Esophagus and Esophagogastric Cancer. Gastroenterology 2021; 160:2169-2171. https://doi.org/10.1053/j.gastro.2021.01.208.

BAIXA TITULAÇÃO DE ANTICORPOS EM RESPOSTA À VACINA COVID-19 mRNA EM PACIENTES COM OBESIDADE CENTRAL, TABAGISMO E HIPERTENSÃO

Com o objetivo de analisar as variáveis associadas com a resposta sorológica após a vacina COVID-19 mRNA, um grupo de especialistas da Universidade de Roma, Itália, conduziu um estudo entre os meses de janeiro e fevereiro de 2021, baseado em cuidadoso protocolo.    Foram incluídos 86 profissionais de saúde aderentes à campanha de vacinação contra COVID-19.  Todos foram submetidos a duas inoculações de vacina (Pfizer/BioNTech) separadas por um intervalo de 3 semanas.  Amostras de sangue foram coletadas antes da primeira dose e 1 e 4 semanas após a segunda inoculação. Foram obtidas meticulosas observações sobre a história clínica, demografia e eventos colaterais da vacinação, bem como medições dos parâmetros antropométricos.  A composição corporal foi analisada por meio de absortometria de raios-X de dupla energia.

Os resultados são apresentados em detalhes e a análise multivariada demonstrou que maior circunferência da cintura, hábito de fumar, hipertensão arterial e maior tempo decorrido entre a inoculação da segunda vacina foram associados com os menores títulos AB, independentemente do índice de massa corporal, idade e gênero.

Os autores concluem que obesidade central, hipertensão e tabagismo estão associados com menores títulos AB após a vacinação para COVID-19.  Embora seja atualmente impossível determinar se valores mais baixos de SARS-CoV-2 Abs levam à maior probabilidade  de desenvolvimento de COVID-19, está bem estabelecido que anticorpos neutralizantes se correlacionam com a proteção contra diversas viroses incluindo SARS-CoV-2. O presente estudo, portanto,  chama a atenção para abordagem vigilante em indivíduos com obesidade central, hipertensão e tabagismo que pode beneficiar com reforços precoces de vacinação ou diferentes cronogramas de vacinação.

Watanabe M et al.  Central obesity, smoking habit, and hypertension are associated with lower antibody titres  in response to COVID-19 mRNA vaccine. Diabetes Metab Res Rev 2022;38:e34g5. https://doi.org/10.1002/dmrr.3465.

Compilação:
Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Associado de Gastroenterologia. – Fac.Med.USP
Diretor Comunicação – FBG