A famotidina tem sido posicionada como tratamento potencial na enfermidade COVID-19 (vide artigo de Mather JF e col. publicado nesta seção em novembro de 2020). O presente estudo coorte retrospectivo foi realizado com dados de registros eletrônicos de pacientes do Premier Hospital (New Jersey, EUA) pelo grupo Janssen / Johnson & Johnson.
Foram comparados os resultados de óbitos/cuidados intensivos seguidos de morte pós-covid-19 entre pacientes hospitalizados usuários de famotidina versus usuários de inibidores da bomba protônica (IBPs), usuários de hidroxicloroquina ou não-usuários.
A população estudada se constituiu por pacientes hospitalizados maiores de 18 anos. Os grupos (famotidina, IBPs, hidroxicloroquina) foram definidos pelos casos que não haviam recebido medicação contendo nenhuma das três drogas no dia da admissão. O grupo de não-usuários de famotidina foi derivado da mesma população sem história de exposição a nenhuma droga com famotidina como ingrediente ativo anteriormente ou no dia da admissão hospitalar. O tempo de risco foi definido baseando-se no princípio de intenção-ao-tratamento, iniciando-se um dia a 30 dias após a admissão. Para cada grupo comparativo foi utilizado um modelo apropriado segundo uma escala logística de regressão.
Os resultados foram modelados com o emprego de modelo de sobrevivência. Foram identificados 2.193 usuários de IBPs, 5.950 usuários de hidroxicloroquina, 1.816 usuários de famotidina e 26.820 não-usuários de famotidina. Resultados de estudos observacionais devem ser interpretados com cautela, mas, não foram encontradas evidências de risco reduzido de COVID-19 entre pacientes hospitalizados com COVID-19 que utilizaram famotidina em comparação com aqueles que não utilizaram, ou, comparados com os usuários de hidroxicloroquina ou IBPs.
Shoaibi A et al. Comparative effectiveness of famotidine in hospitalized COVID-19 patients. Am J Gastroenterol 2021;116:692-693.
SUPLEMENTAÇÃO DE VITAMINA D PARA TRATAMENTO DE COVID-19: REVISÃO SISTEMÁTICA
O papel da suplementação de vitamina D no tratamento de COVID-19 tem sido amplamente discutido. É, portanto, importante a necessidade de ensaio clínico controlado, randomizado para o efetivo entendimento das evidências sobre efetividade e segurança da suplementação de vitamina D para COVID-19.
Com o objetivo de verificar se tal estudo foi executado ou está em execução, foi realizada a presente pesquisa de revisão, na busca de estudo ou estudos comparativos com placebo ou cuidados padrão para analisar se a suplementação vitamínica D é realmente efetiva e segura nesses pacientes. Foram pesquisados estudos na base Cochrane, Web of Science e OMS literatura global sobre coronavírus para a identificação de estudos completos ou em andamento, sem restrição de idioma, até 11 de março de 2021. A metodologia seguida foi a estabelecida por Cochrane, com a inclusão de estudos randomizados, controlados que avaliaram a suplementação vitamínica D para COVID-19, independentemente da gravidade da doença, idade, gênero ou etnicidade.
Foram identificados três ensaios clínicos controlados e randomizados com 356 participantes dos quais 183 receberam vitamina D. Segundo a escala de progressão clínica da OMS, dois estudos investigaram participantes com doença moderada ou grave e um estudo analisou pacientes com doença leve ou assintomática. O grupo controle consistiu por pacientes com tratamento padrão ou placebo.
Após a análise dos resultados dos diferentes estudos quanto à efetividade e segurança em pacientes com enfermidade leve e assintomática e moderada a grave, os autores (diversas universidades alemãs) concluíram que atualmente as evidências são insuficientes e incertas para determinar benefícios e eventuais riscos da suplementação de vitamina D no tratamento para COVID-19. As informações sobre segurança são limitadas. Confirma-se, portanto, necessidade urgente de ensaios controlados bem desenhados e, nesse sentido, encontram-se presentemente em andamento 21 trabalhos onde esses objetivos podem ser alcançados.
Stroehlen JK et al. Vitamin D suplementation for the treatment of COVID-19: a living systematic review. Cochrane Database of Systematic Reviews 2021, Issue 5. Art.No.:CD015043 DOI:10.1002/14651858.CD015043. Accessed 27 May 2021.
SUICÍDIO E AUTOAGRESSÃO EM ADULTOS SOBREVIVENTES DE ENFERMIDADES CRÍTICAS: ESTUDO COORTE BASEADO POPULACIONAL
A epidemia de COVID-19 desencadeou aumento de ansiedade e depressão. Tendo em vista essa possibilidade, dentre outros quadros psicológicos e psiquiátricos nos casos mais complicados e em sobreviventes da enfermidade, é oportuno o presente trabalho realizado no Canadá. Ainda que não realizado com pacientes COVID-19, analisa a associação entre sobreviventes de enfermidades críticas e suicídio ou autoagressão após alta hospitalar.
Trata-se de um estudo de coorte baseado na população ligada e validado pelas bases de dados províncias de Ontário, Canadá, no período compreendido entre janeiro de 2009 a dezembro de 2017. Foram incluídos pacientes adultos consecutivos sobreviventes de unidades de terapia intensiva (UTI). Bases de dados foram utilizadas para comparar pacientes que tiveram alta de UTI com pacientes que tiveram alta mas não haviam sido admitidos em UTI. Assim, segundo a admissão hospitalar durante o período de estudo, os pacientes foram categorizados em UTI ou não-UTI.
O resultado primário foi composto por morte por suicídio (conforme anotado nos registros de óbito) e automutilação após alta hospitalar. A incidência de suicídio foi avaliada se contabilizando o risco competitivo de morte por outras causas. As análises foram conduzidas com uso de pontuação de propensão, causa específica, modelos de risco proporcional Fox.
Foram identificados 423.060 sobreviventes consecutivos de UTI (média etária 61,7 anos, 39% sexo feminino) e, após análise comparativa e estatística chegou-se às seguintes conclusões. Sobreviventes de doenças graves tem risco aumentado de suicídio e automutilação, estes resultados estando associados a enfermidades psiquiátricas pré-existentes e o recebimento de suporte vital invasivo. O conhecimento desses fatores prognósticos pode permitir a intervenção precoce com o objetivo de potencial redução de um importante problema de saúde pública.
Fernando SM et al. Suicide and self-harm in adults survivors of critical illness: population based cohort study. BMJ/2021;373:n973. http://dxdoi.org/10.1136/bmj.n973.
Compilação :
Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Livre-Docente de Gastroenterologia. – Fac.Med. USP
Diretor Comunicação – FBG