MANIFESTAÇÕES GASTROENTEROLÓGICAS E COVID-19: META-ANÁLISE ENVOLVENDO 25.252 CASOS ENTRE A PRIMEIRA E SEGUNDA ONDA

É apresentada meta-análise cujo objetivo foi identificar pacientes com COVID-19 que apresentaram sintomas gastrintestinais durante a primeira e segunda ondas da pandemia e investigar sua associação com os resultados apresentados.  Os autores da Tulane University, New Orleans, Lousiana, EUA e da Horus University, Egito, realizaram pesquisa sistemática até 25 de julho de 2020 nas seguintes fontes: PubMed, Scopus, Web of science, ScienceDirect e EMBASE. A prevalência combinada das apresentações gastrintestinais foi estimada empregando um modelo de efeitos aleatórios. A comparação emparelhada dos achados foi realizada de acordo com as manifestações gastrintestinais  e as ondas da infecção pandêmica.  Os dados foram descritos como risco relativo (RR) ou razão de probabilidade e 95% de intervalo de confiança.  

Em 125 artigos publicados envolvendo 25.252 pacientes, 20,3% apresentaram manifestações gastrintestinais, sendo mais comuns as seguintes:    anorexia (19,9%), disgeusia (alteração do paladar) / ageusia (15,4%), diarréia (13,3%), náusea (10,3%) e hematêmese (9,1%) foram os achados mais comuns. Cerca de 26,7% tiveram RNA fecal positivo com persistência viral com média de 19,2 dias antes de se negativar. Os pacientes com sintomas gastrintestinais na admissão demonstraram maior risco de complicações, incluindo síndrome de insuficiência respiratória (RR=8,16), insuficiência cardíaca aguda  (RR=5,36) e insuficiência renal aguda (RR=5,520, admissões em unidades de terapia intensiva (UTi) (RR=2,56) e mortalidade (RR=2,01). A análise dos sub-grupos demonstrou (embora não tenha alcançado níveis significantes) que os grupos que foram afetados na primeira onda apresentaram risco maior de hospitalização, ventilação, admissão em UTI e morte.

A presente meta-análise sugere associação entre sintomas gastrintestinais em pacientes COVID-19 com resultados desfavoráveis. A análise tambem demonstrou melhora dos resultados durante a segunda onda em comparação com os resultados da primeira onda.

Elshazli RM et al. Gastroenterology manifestations and COVID-19 outcomes: a meta-analysis of 25.252 cohorts among the first and second waves.                J Med Virol 2021;93:2740-2768.     DOI: 10.1002/jmv.26836.                                    

PROBLEMAS DE SONO DURANTE A PANDEMIA COVID-19 : REVISÃO SISTEMÁTICA E META-ANÁLISE

Os problemas relacionados ao sono em pacientes COVID-19 tem sido referidos, mas existe falta de uma análise global – revisão sistemática e meta-análise, o que levou os autores (Faculdade de Medicina, Manama, Reino de Bahrain;  Universidade de Washington, Seatle, Washington, EUA) a realizar o presente trabalho.  Foram analisados os impactos no sono decorrentes da pandemia na população em geral, pessoal da área de saúde e pacientes com COVID-19.

Foram consultados (1 de novembro de 2019 a 5 de julho de 2020): American Psychological Association PsycINFO, Cochrane, Cumulative Index to nursing and Allied Health Literature (CINAHL), EBSCOhost, EMBASE, Google acadêmico, MEDLINE, ProQuest Medical, ScienceDirect, Scopus e Web of Science.  Adicionalmente, cinco servidores de trabalhos pré-lançamento (medRxiv.org; preprints.org; psyarxiv.com; arXIV.org; biorxiv.org) foram tambem pesquisados para trabalhos aceitos após peer review mas ainda não publicados.  Não foram feitas restrições quanto ao idioma da publicação.  Foram empregados modelos de efeitos de randomização e meta-análises, com metodologia DerSimonian e Laird.

Quarenta e quatro trabalhos envolvendo um total de 54.231 participantes de 13 países foram considerados relevantes e contribuiram para a revisão sistemática e meta-análise sobre problemas do sono durante COVID-19.   A prevalência global de problemas relacionados ao sono entre todas as populações foi de 35,7% (intervalo de confiança, I.C. : 95%, 29,4-42,4%).  Pacientes com COVID-19 demonstraram ser o grupo mais afetado com taxa combinada  de 74,8% (I.C. : 95%, 28,7-95,6%).  O pessoal de saúde e a população em geral apresentaram níveis comparáveis de problemas de sono, com médias de 36,0% (I.C. 95%, 21,1-54,2%) e 32,3% (I.C. 95%, 25,3-40,2%), respectvamente.

Conclui-se que é elevada a prevalência de problemas do sono durante a pandemia  de COVID-19 afetando aproximadamente 40% da população em geral e do pessoal de saúde.  Os pacientes com COVID-19 em atividade apresentam maior prevalência de problemas relacionados ao sono.

Jahami H et al. Sleep problems during the COVID-19 pandemic by the population: a systematic review and meta-analysis. J Clin Sleep Med 2021;17:299. https://doi.org/10.5664/jcsm.8930.

TRANSMISSÃO DE SARS-CoV-2 EM PESSOAS SEM SINTOMAS DE COVID-19

A etiologia da doença do coronavirus 2019 (COVID-19), ou seja, a síndrome respiratória aguda grave por coronavirus 2 (SARS-CoV-2), é rapidamente transmitida de pessoa a pessoa.  O controle ideal de COVID-19 depende do direcionamento de recursos e mensagens de saúde para esforços de abrandamento mais prováveis de prevenir a transmissão,  mas a importância relativa de tais medidas não está totalmente esclarecida.

O objetivo do presente trabalho (US Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, Georgia, EUA) foi avaliar a proporção de transmissões que provavelmente ocorrem a partir de pessoas sem sintomas.

Foi empregado um modelo analítico de decisão que avaliou a quantidade relativa de transmissão de indivíduos pre-sintomáticos, não sintomáticos e assintomáticos em diferentes cenários,  nos quais a proporção de transmissão de pessoas  que nunca desenvolveram sintomas (ou seja: permaneceramm assintomáticos) e os períodos              infecciosos foram variados segundo as melhores estimativas publicadas. O cálculo de todas as estimativas prováveis foi realizado com dados de meta-análise para estabelecer o período de incubação com mediana de 5 dias.  A duração do período infeccioso foi mantido em 10 dias e o pico infeccioso foi variado entre 3 e 7 dias (-2 e +2 relativos ao período medio de incubação).  A proporção geral de    SARS-CoV-2 variou entre 0% e 70% para permitir assesso de ampla margem de possiveis proporções.

As pressuposições basais para o presente modelo foram de que o pico de infecciosidade ocorreu na mediana do início sintomático e que 30% dos indivíduos com infecção nunca desenvolveram sintomas e são 75% tão infecciosos quanto aqueles que desenvolvem sintomas. Combinadas, essas pressuposições basais implicam que pessoas com infecção que nunca desenvolveram sintomas podem contribuir por aproximadamente 24% de toda transmissão.  No caso basal em questão,  59% de todas as transmissões vieram de transmissão assintomática, abrangendo 35% de indivíduos pré-sintomáticos e 24% de indivíduos que nunca apresentaram sintomas.  Considerando a larga margem de valores de cada uma dessas hipóteses, pelo menos 50% de novas infecções SARS-CoV-2 foram estimadas de terem sido originadas da exposição a pessoas com infecção, mas sem sintomas.

Conclui-se que, a partir desse modelo analítico de múltiplo cenários, a transmissão a partir de indivíduos assintomáticos foi estimada em contar com mais da metade de todas as transmissões.  Ademais da identificação e isolamento de pessoas com COVID-19 sintomáticas, o controle efetivo da disseminação exige a redução dos riscos de transmissão de pessoas infectadas e que não tem sintomas.  Assim, os presentes achados sugerem que medidas como máscaras faciais, higiene das mãos, distanciamento social e provas estratégicas para pessoas que não estão enfermas serão fundamentais para reduzir a disseminação da enfermidade.

Johansson MA et al. SARS-CoV-2 Transmission from people without COVID-19 symptoms. JAMA Network Open 2021;4(1):e2035057.  Doi:10.1001 ‘jmanetworkopen.2020.35057.

Compilação :
Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Livre-Docente de Gastroenterologia. – Fac.Med.USP
Diretor Comunicação – FBG