Microbiota intestinal e condicionantes de estresse. Uma relação importante.

O estresse, que faz parte de nossa vida diária, por dificuldades profissionais, afetivas, comerciais e financeiras, tem repercussão no relacionamento entre individuo e meio ambiente. Nosso organismo reage perante o estresse, na dependência de sua intensidade com maior ou menor impacto. Trata-se da resposta típica ao estresse, que pode variar de fisiológica a patológica, que inclui manifestações orgânicas e psíquicas. 

Manifestações de nervosismo, ansiedade, irritabilidade, acompanhada de tontura, falta de memória e concentração pode ser reflexo da resposta ao estresse, assim como sudorese, cefaleia e distúrbios do sono.

O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal modula a resposta ao estresse, que reverbera para o sistema imunológico. Recentemente a microbiota intestinal (MI) também tem sido envolvida neste processo. 

Está estabelecido a importância neurológica do intestino e seu íntimo relacionamento com o sistema nervoso central, assim como com a MI em termos de resposta ao estresse. Esta resposta tem dupla mão de direção, ou seja, mudanças pressentidas pelo sistema nervoso intestinal podem afetar quantitativa e qualitativamente a função da MI e vice-versa. 

Portanto, condições que exigem súbitas mudanças comportamentais e de humor podem implicar em alterações intestinais, de hábitos de vida, dieta, que podem influenciar a composição da MI. Em consequência pode acontecer modificação de resposta imunológica e inflamatória. Essas, por sua vez, pode afetar os níveis de neurotransmissores cerebrais e assim, contribuir para alterações de comportamento, humor, e mesmo interação, criando um ciclo vicioso de difícil ruptura. 

Probióticos são microrganismos vivos que, ingeridos em quantidade adequada conferem benefícios ao nosso organismo. Portanto tem cabimento estudar a ação de probióticos como intervenientes no eixo intestino-microbiota-cérebro e as consequências do estresse. 

Experimentalmente, em animais sob estresse, verificou-se elevação de marcadores inflamatórios e maior concentração de lipopolissacárides (LPS). No entanto, a oferta do probiótico Lactobacillus farciminis melhorou a toxemia induzida pelo LPS e reduziu as taxas de marcadores inflamatórios no hipotálamo. 

Em situações de estresse, probióticos foram extensamente estudados, experimentalmente e na clínica. Em especial, o probiótico Lactobacillus casei shirota apontou melhora do humor em indivíduos deprimidos e redução dos níveis de ansiedade em pacientes portadores de síndrome da fadiga crônica. 

De seu lado, Messaoudi et al, 2011, observaram que a oferta de  probióticos Lactobacillus helveticus e Bifidobacterium longum se associou a menor ansiedade e depressão hospitalar. 

Recentemente, em humanos sob estresse diário, a ingestão de Lactobacillus acidophilus Rosell 52 junto com Bifidobacterium longum Rosell 175 se associou com diminuição de sintomatologia digestiva induzida pelo estresse. Ainda, em voluntários saudáveis sob estresse crônico de um mês, o consumo da mesma associação de probióticos apontou, no grupo com probiótico, redução do cortisol livre urinário e da escala de ansiedade. 

Evidências recentes pontam que o consumo de probióticos pode melhorar sintomatologia de desordens do humor, por conta da elevação de serotonina ao lado da diminuição de níveis de marcadores inflamatórios, o que poderia ter grande impacto entre aqueles que buscam o tratamento antidepressivo e sofrem com os efeitos colaterais destes medicamentos. 

Em potencial existem mecanismos para compreender as associações observadas entre probióticos e alterações psíquicas: 

1) Exclusão competitiva de patógenos intestinais pelos probióticos; 

2) O equilíbrio da barreira intestinal reduz a permeabilidade intestinal e evita a entrada de microrganismos patógenos e antígenos e, assim, reduz a inflamação; 

3) Comunicação direta com o sistema nervoso central por meio de fibras sensoriais vagais; 

4) Diminuição de mediadores inflamatórios, o que sugere associação entre depressão e níveis elevados de marcadores imunológicos.

Assim, cada vez mais, verifica-se a importância de probióticos, como agentes intervenientes, sobre mediadores inflamatórios e de estresse por meio de influência sobre o eixo microbiota-intestino-cérebro. 

Infelizmente, somos expostos diretamente ao estresse em quantidade e intensidade cada vez maiores. Dessa forma, pesquisar essa área do saber é fundamental. A literatura disponível indica o uso potencial de probióticos na melhora da saúde e qualidade de vida da população. 

Referências bibliográficas

FRANKIENSZTAJN, Linoy Mia; ELLIOTT, Evan; KOREN, Omry. The microbiota and the hypothalamus-pituitary-adrenocortical (HPA) axis, implications for anxiety and stress disorders. Current Opinion In Neurobiology, [S.L.], v. 62, p. 76-82, jun. 2020. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.conb.2019.12.003.

GUBERT, Carolina et al. Exercise, diet and stress as modulators of gut microbiota: implications for neurodegenerative diseases. Neurobiology Of Disease, [S.L.], v. 134, p. 1-16, fev. 2020. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.nbd.2019.104621.

Messaoudi, M. et al. Assessment of psychotropic-like properties of a probiotic formulation (Lactobacillus helveticus R0052 and Bifidobacterium longum R0175) in rats and human subjects. British Journal of Nutrition (2011), 105, 755–764. 

Dan Linetzky Waitzberg
Diretor GANEP Educação