Introdução:
Hepatites virais (HV) são infecções de origem viral que acometem o fígado de forma aguda ou crônica com manifestações clínicas leves, moderadas e graves. Na maioria das vezes, evoluem sem sintomas, mas podem apresentar manifestações como cansaço, mal-estar, enjoo, vômitos, dor abdominal, olhos amarelados, urina escura e fezes esbranquiçadas.
No Brasil as HV mais comuns são as causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda a hepatite D, principalmente, na região Norte e casos muito esporádicos da hepatite E.
Causas:
A hepatite A é uma doença aguda, não havendo formas crônicas. O vírus se replica no fígado, é excretado na bile e eliminado nas fezes, resultando na transmissão orofecal (água e alimentos contaminados por fezes de portadores do vírus). Há outras formas de transmissão por contatos pessoais próximos (intradomiciliares, pessoas em situações de rua e crianças em creches) e contatos sexuais (especialmente homens que fazem sexo com homens). A maiorias dos casos é assintomática, mas alguns apresentam os sintomas relatados acima. A confirmação do diagnóstico é feita por um exame de sangue, anti-HAV IgM, que pode permanecer positivo por até seis meses. Não há tratamento específico para hepatite A. O mais importante é evitar a automedicação. Não há dietas especiais recomendadas e o seu médico saberá o momento ideal para utilizar medicações para alívio dos sintomas. A internação só é recomendada em casos graves com alterações severas da função hepática. A vacina contra a hepatite A é eficaz e segura e faz parte do calendário infantil do Ministério da Saúde.
Sintomas:
As infecções pelo vírus B ou C podem manifestar-se de forma aguda ou crônica, onde há persistência da inflamação no fígado por mais de seis meses e possível evolução para cirrose hepática. A forma aguda pode ser assintomática ou apresentar os mesmos sintomas descritos acima. A forma crônica, normalmente, é assintomática e detectada por alterações em exames laboratoriais que podem ser solicitados em avaliações de rotina bem como testes para detecção do vírus no sangue, HBsAg para o vírus B e Anti-HCV para o vírus C, disponíveis com facilidade, inclusive no SUS. O vírus B tem maior potencial de infecção que o vírus da hepatite C e que o HIV. As formas de transmissão mais importantes do vírus B e vírus C são:
– Compartilhamento de material para uso de drogas (seringas, agulhas, cachimbos)
– Compartilhamento de materiais de higiene pessoal (lâminas de barbear, depiladores, escovas de dente, alicates de unha e outros objetos cortantes)
– Tatuagens, piercings, tratamentos odontológicos ou cirúrgicos que não atendam normas de biossegurança.
– Relações sexuais sem preservativos com pessoa infectada (mais comum na hepatite B)
– De mãe infectada para filho, durante gestação e parto (mais comum na hepatite B)
– Transfusão de sangue (mais relacionada a período anterior a 1993)
Diagnóstico/tratamento:
Como na hepatite A, não há dietas especiais recomendadas para o tratamento das hepatites B e C. Em relação ao tratamento específico, a hepatite B não tem cura definitiva, mas há medicamentos antivirais, inclusive no SUS, que impedem a multiplicação do vírus e retardam ou melhoram a evolução da doença. A hepatite C tem cura em mais de 95% dos casos e há tratamento disponível no SUS com medicamentos por via oral e pouquíssimos efeitos colaterais. Há vacina efetiva e segura para hepatite B disponível de forma gratuita pelo Programa Nacional de Imunização. Não há ainda vacinas desenvolvidas e disponíveis para hepatite B
Recomendações:
Independente da vacina, recomendada para todos, algumas recomendações são fundamentais para prevenção das hepatites virais:
– Lavar bem as mãos após uso do sanitário, troca de fraldas e preparo de alimentos
– Lavar com agua tratada, clorada ou fervida alimentos que serão consumidos crus
– Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes
– Não tomar banho ou brincar em riachos, enchentes ou próximo a esgotos
– Usar preservativos e higienizar mãos, genitália, períneo e região anal antes e depois de relações sexuais
– Higienizar vibradores, plugs anais e vaginais e outros acessórios eróticos
– Não compartilhar seringas, agulhas e materiais de higiene pessoal
– Cerificar-se de que protocolos de biossegurança são cumpridos antes de submeter-se a tatuagens, piercings, tratamentos odontológicos e procedimentos cirúrgicos.
Lembrar, sempre , que hepatite A e B tem vacinas e a hepatite C tem cura!
Fonte: Manual Técnico para o Diagnóstico das Hepatites Virais. Ministério da Saúde do Brasil. aids.gov.br. 2018
Dr. Francisco Sérgio Rangel de Paula Pessoa
Doutor em Biotecnologia da Saúde – Universidade Estadual do Ceará
Vice- Presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia
Sócio Titular da Sociedade Brasileira de Hepatologia
Chefe do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Geral de Fortaleza