O Helicobacter pylori é uma bactéria gran negativa e foi descrita e divulgada na Austrália por um patologista e um gastroenterologista em 1983. O Dr. Warren e Marchall que descreveram a presença dessa bactéria no estômago levando ao entendimento dos processos patológicos evolutivos que acometem o estômago ao ser infectado.
Eles observaram a presença dessa bactéria em biópsias do estômago de pacientes que realizaram endoscopia por sintomas digestivas e nos quais fora observado processos inflamatórios na mucosa gástrica.
Após um período de descrédito pelo achado, vários pesquisadores, em várias partes do mundo corroboraram o achado.
Devido a descrição dos seus achados e importância do mesmo foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina em 2005.
Essa bactéria está presente e infecta em torno de 50% da população mundial. Essa infecção é mais prevalente em populações de países subdesenvolvidos o que acarreta deficiências no sistema de saneamento básico. Portanto existem áreas populacionais com mais de 70% da sua população adulta infectada e áreas com menos de 30% de infectados. Esses achados epidemiológicos são importantes marcadores das características sanitárias de um País ou região.
Se considerarmos que no mundo temos áreas de prevalência da bactéria alta, média e baixa nosso País está dentro da prevalência média em relação ao mundo, mas com diferenças regionais importantes.
Como condições sanitárias deve-se valorizado o saneamento básico como água tratada esgoto canalizado, educação, e hábitos higiênicos.
Essa bactéria é adquirida normalmente na infância e persiste em nosso estômago indefinidamente se não erradicada.
Nas regiões onde o saneamento básico continua precário a população em geral adquire a bactéria na infância e persiste na fase adulta. Nas regiões onde ocorreu melhora substancial nas condições sanitárias encontraremos menos crianças contaminadas, mas os adultos que conviveram em situação mais precárias na infância serão os positivos para a bactéria. Isso tem sido observado nos países que melhoraram seus índices de desenvolvimento humano com melhores condições educacionais e sanitárias e econômicas de da sua população.
No nosso País ainda é uma preocupação de saúde pública.
Para o entendimento e didaticamente podemos considerar o estômago com dois grandes compartimentos o proximal – chamado de corpo gástrico e o distal antro gástrico.
A parte proximal – corpo gástrico_ é onde se secreta o ácido clorídrico, fator intrínseco, e muco e pepsina. Todos esses elementos são importantes na proteção do nosso organismo e na digestão e absorção. O Fator intrínseco é fundamental na absorção de vitamina B12 no intestino.
O antro é produtor de substância hormonais que regulam a produção do corpo gástrico, ora estimulando ou ora bloqueando a mesma. Produzindo a gastrina que estimula as células produtoras de ácido e pepsina e a somastostatina que inibe a produção do mesmo. São mecanismo importantes no equilíbrio da produção de ácido e outras substàncias num nível fisiológico.
Uma característica do Helicobacter pylori é sua capacidade de viver em meio ácido pela sua propriedade de converter a uréia presente no suco gástrico em amônica e dióxido de carbono mantendo-se envolta num meio que lhe capacita a viver e atuar na mucosa gástrica.
As consequências da presença da bactéria são o processo inflamatório que essa bactéria acarreta no estômago, inicialmente na parte distal -antro gástrico. Esses achados são na grande maioria dos pacientes assintomáticos. Esse processo inflamatório poderá acarretar que as células glandulares do corpo gástrico passem a secretar mais ácido, podendo, em torno de 1-10% dos portadores ao longo da sua vida adquirirem úlcera péptica do estômago ou duodeno (primeira porção do intestino delgado).
Pacientes com sintomas ditos dispépticos em torno de 1-10% são investigados e portadores da bactéria.
Pelo processo inflamatório crônico menos de 0,1 % terem uma forma de Linfoma – Linfoma Malt. Que em seus estágios iniciais poderão ser tratados erradicando a bactéria do estômago.
Com a evolução do processo inflamatório, sendo que o mesmo progride para as porções proximais do estômago – corpo gástrcio-, haverá diminuição da secreção ácida e possibilitando em torno de de 1% dos portadores desenvolverem uma forma de câncer – adenocarcinoma gástrico.
É descrito a correlação da bactéria com alguns pacientes que desenvolveram anemia por deficiência de ferro e vitamina B12 e casos de púrpura trombocitopênica.
Todas as pessoas com sintomas digestivos, ao procurarem seu atendimento médico e serem portadores de sinais compatíveis ou história familiar dessas patologias deverão serem investigadas
A pesquisa da presença do Helicobacter pylori poderá ser realizada por testes não invasivos ou teste invasivo através da endoscopia digestiva com biópsias da mucosa gástrica para pesquisa histológica da presença da bactéria e estágio do processo inflamatório dessa mucosa.
A Endoscopia Digestiva Alta é largamente utilizada no nosso meio, não só serve para o diagnóstico da presença da bactéria, mas também para estudar a situação das consequências inflamatórias que o Helicobacter pylori acarretou na mucosa gástrica.
Os testes não invasivos, infelizmente ainda restritos no nosso País a poucos centros, são o teste respiratório de Carbono marcado, teste de antígeno nas fezes e a dosagem dos anticorpos contra o Helicobacter pylori.
A dosagem no sangue dos anticorpos contra o Helicobacter pylori numa determinada população é utilizada principalmente para determinar a situação epidemiológica de uma população em determinada região. Demonstrando que esse grupo populacional teve o contato com a bactéria e a mesma acarretou a formação de anticorpos. No entanto não determina que naquele momento o indivíduo testado tem a mesma no estômago, pois ela pode ter sido erradicada por tratamentos prévios para outras patologias infecciosas cuja medicação tenha tido efeito sobre o Helicobacter pylori.
Nos pacientes com o diagnóstico de Helicobacter pylori em seu estômago devem ser tratados conforme orientação do seu médico.
Existe orientação do IV Consenso Brasileiro do Helicobacter pylori realizado orientou e definiu critérios de diagnóstico e tratamento e seguimento desses pacientes
O tratamento deve ser seguido a risca, para evitar-se resistência da bactéria aos agentes terapêuticos.
Após o tratamento a erradicação da bactéria deve ser monitorada ou por métodos não invasivos ou por endoscopia digestiva e a realização de biópsias e análise histopatológica.
Como a infecção é adquirida na maioria das vezes na infância, o tratamento quanto mais precoce, poderá evitar a evolução das lesões que a bactéria acarreta na mucosa.
A necessidade de pacientes por outras situações clínicas do uso de agentes agressivos a mucosa gástrica por tempo mais prolongado, como antiinflamatórios não esteróides, aspirina e agentes anticoagulantes, recomenda-se investigar se são portadores da bactéria. O motivo dessa preocupação em particular é do aumento do risco de provocarem sangramento em portadores da bactéria.
Ismael Maguilnik
Mestre em Ciências em Gastroenterologia e Hepatologia
Chefe da Unidade de Endoscopia da Hospital de Clínicas de Porto Alegre