A gravidade da enfermidade por COVID-19 pode estar correlacionada com riscos de desenvolvimento de hepatopatia. Assim, tem sido sugerido que os resultados insatisfatórios que podem ocorrer com a infecção SARS-CoV estariam relacionados à hepatopatia, mas esse é ainda um ponto a ser melhor esclarecido, embora número crescente de estudos tem indicado que os graus de hepatoxicidade podem estar associados com o uso de determinadas medicações empregadas na terapêutica de pacientes COVID-19. É de se observar, contudo, que é limitado o número de trabalhos que investigaram sistematicamente as evidências de dano hepático induzido por drogas em pacientes COVID-19. Nesse sentido, os autores do presente trabalho (Universidade de Ciências Médicas de Teerã, Irã / Universidade Miller, Miami, EUA) analisaram as evidências de hepatopatia em pacientes infectados por COVID-19.
Foi conduzida revisão sistemática até 30 de dezembro de 2020, tendo como fontes Pub/Medline, EMBASE e Web of Science, com a inclusão de busca por”SARS-CoV-2″, “coronavírus”, “COVID-19” e “hepatopatia”. Foram incluídas 22 publicações relacionadas às palavras-chave acima: cinco relatos de casos, cinco séries de acompanhamento, quatro ensaios controlados/randomizados, sete estudos de coorte e um estudo cruzado. As drogas incluídas nesses trabalhos foram: remdesivir, favipiravir, tocilizumab, hidroxicloroquina e lopinavir/ritonavir.
Dentre os trabalhos analisados, alguns demonstraram ação direta de fármacos, enquanto outros não puderam confirmar com certeza se o dano hepático foi devido a SARS-CoV-2 por si mesmo ou pelos medicamentos empregados em seu tratamento. Ainda assim, significativo número de estudos relataram que a hepatopatia poderia ter sido atribuída aos fármacos administrados.
Conclui-se que o dano hepático nesses pacientes poderia ser causado pelo vírus ou pela administração de determinadas drogas. O monitoramento hepático sistemático para esses pacientes deve, portanto, ser considerado, especialmente aqueles tratados com drogas como remdesivir, lopinavir/ritonavir e tocilizumab.
Sodeifian F. et al. Drug-induced liver injury in COVID-19 patients: a systematic review.Front Med 2021 (https://doi.org/10.3389fmed2021. 731436).
MIOCARDITE APÓS VACINAÇÃO PARA COVID-19 EM GRANDE ORGANIZAÇÃO DE CUIDADOS DA SAÚDE
Trabalhos têm sugerido a associação entre o desenvolvimento de miocardite em receptores de vacinas contra COVID-19 do tipo RNA-mensageiro (mRNA). Apesar da importância dessa observação, a frequência e gravidade da miocardite após a vacinação não tem sido analisada extensivamente, o que motivou o presente estudo por investigadores israelenses em colaboração com a Universidade de Harvard (EUA).
Foi pesquisado o banco de dados da maior organização de saúde israelense, Clalit Health Services, quanto ao diagnóstico de miocardite em pacientes que haviam recebido pelo menos uma dose da vacina BNT162b2 Rma (Pfizer-0BioNTech). O diagnóstico de miocardite foi estabelecido por cardiologistas empregando a definição dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças. A partir de registros eletrônicos dos pacientes, os seguintes dados foram resumidos para compilação final: apresentação, curso clínico e resultados clínicos.
Os resultados demonstraram que dentre os mais de 2,5 milhões de indivíduos vacinados a partir dos 16 anos de idade, os critérios para o diagnóstico de miocardite foram preenchidos em 54 casos. A incidência estimada para 100.000 pessoas que haviam recebido pelo menos uma dose da vacina foi de 2,13 casos (95% intervalo de confiança/ic: 1,56 a 2,70). A maior incidência de miocardite (10,69 casos por 100.000 pessoas ; 95% ic, 6,93 a 14,46) foi descrita em pacientes do sexo masculino com idades entre 16 e 29 anos. Um total de 76% dos casos de miocardite foram descritos como leves e 22% como intermediários. Um caso foi associado a choque cardiogênico. Após um intervalo médio de seguimento de 83 dias após o início da miocardite, um paciente foi readmitido no hospital, e um foi ao óbito por causa desconhecida. Dentre 14 pacientes que tiveram disfunção ventricular esquerda caracterizada na ecocardiografia durante a admissão, 10 ainda apresentavam essa disfunção na ocasião da alta hospitalar. Desses pacientes, 5 foram re-estudados, o que revelou função cardíaca normal.
Os autores concluem que, em uma grande e representativa amostra no sistema de saúde israelense que receberam pelo menos uma dose de vacina da Pfizer, a incidência estimada de miocardite foi de 2,13 casos por 100.000 pessoas. A incidência maior ocorreu em pacientes do sexo masculino entre as idades de 16 e 29 anos. Quanto à gravidade, a maioria dos casos de miocardite foi leve ou moderada.
Witberg G et al. Myocarditis after Covid-19 Vaccination in a Large Health Care Organization. N Engl J Med. / nejm.org. Downloaded in Oct 7,2021.
USO DE MÁSCARAS FACIAIS E RESPIRADOR NA REDUÇÃO DA DISSEMINAÇÃO DE VIROSES RESPIRATÓRIAS. REVISÃO SISTEMÁTICA
Tendo em consideração a rápida disseminação das viroses respiratórias, recomendações têm sido feitas com o propósito de reduzi-las, as quais incluem o uso de máscaras faciais ou respiradores, manutenção da higiene das mãos e manutenção de distância social. Os autores (Universidade de Ciências Médicas, Teerã, Irã) buscaram, por meio de cuidadosa análise de trabalhos publicados, caracterizar o impacto das máscaras faciais e respiradores na efetiva redução da disseminação das viroses respiratórias.
Foi realizada revisão sistemática empregando termos MeSH (Medical Subject Readings) e os achados descritos segundo PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis). Foram pesquisados os artigos publicados entre 2009 e 2020 e as bases de dados utilizados foram: PubMed, Embase, Cochrane, Scopus, ProQuest, Web of science (WoS), Google Scholar. Dois revisores independentes determinaram se os estudos preenchiam os critérios de inclusão. O risco de estudos tendenciosos foi avaliado com o emprego de Newcastle-Ottawa (NOS) e Consolidated Standards of Reporting Trials (CONSORT).
Uma amostragem total de 1.505 artigos foram inicialmente selecionados e 10 foram incluídos ao final da presente análise (tamanho amostral: 3.065). A conclusão foi de que a absoluta maioria dos participantes não-infectados (96,8%) utilizaram máscaras faciais ou respiradores quando em contato com pessoal infectado com vírus respiratório, ou seja, esses utensílios apresentaram efeito significativo na redução da disseminação viral respiratória.
Conclui-se que as evidências suportam que o uso de máscaras faciais ou respiradores reduzem a disseminação de quaisquer tipos de virus respiratórios. Esse resultado pode, portanto, ser generalizado para a presente pandemia de vírus respiratórios (SARS-CoV-2) e é recomendável o uso desses dispositivos na redução da disseminação dessa virose em particular.
Shaterian N et al. Facemask and respirator in reducing the spread of respiratory viruses; a Systematic review. Arch Acad Emerg Med 2021 Aug 16;9(1):e56. doi:10.22037/aaem.v9i.1286.eCollection 2021.
Compilação: Joaquim Prado P Moraes-Filho
Professor Livre-Docente de Gastroenterologia. – Fac.Med.USP
Diretor Comunicação – FBG